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#142 Conversas de Ateliê - Qual é o lugar do medo na sociedade? #41

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Seja bem-vindo ao Conversas de Ateliê!

Na mesa temos Paulo Henrique Martins, Bia Martins, André Magnelli e Lucas Faial Soneghet. No primeiro bloco, aberto ao público, conversamos sobre medo. O medo é uma paixão primordial. Sua ubiquidade parece desafiar diferenças culturais e distâncias temporais. Quem nunca teve medo? Embora não seja privilégio da espécie, o medo caracteriza a existência humana de modo peculiar: se a antropologia filosófica do século XX (Gehlen, Plessner, Merleau-Ponty) e a psicanálise estiverem corretas, somos marcados pela nossa abertura e incompletude em relação ao mundo. Segundo a teoria das instituições de Arnold Gehlen, lidamos com nossa incerteza e impotência – com o medo –, construindo uma segunda natureza, um conjunto de realidades artificiais que nos salvaguardam e dão vazão aos nossos instintos. Aqui, o medo é uma poderosa força motriz na raiz da sociedade como um todo. Na teoria de Hobbes, o medo do outro é o princípio da constituição da política, incorporada no Leviatã. O medo se liga a razão pela via da autopreservação. Na verdade, o medo está no centro, entre as paixões e a razão, pois parte do medo da morte, mas nos direciona para a paz.

Todavia, o mesmo medo que pode levar à construção de leis e instituições, também pode ser nocivo ao laço social. Como argumentou Elena Pulcini, o medo pode ser tornar socialmente improdutivo ou mesmo nocivo. Na era global, em face dos riscos de catástrofe ambiental, com acirramento de conflitos na esfera política, guerras e genocídios, o medo parece estar mais presente, impregnado no tecido do cotidiano. A violência urbana e suas reações, tema comum no Brasil, é testemunha de como o medo pode levar a cisões e fraturas no social. Na sociedade do risco (Beck), um estado geral de insegurança que não emana da “natureza”, mas resulta dos meios surgidos na modernidade para lidar com o medo (tecnologias, instituições e política), nos coloca diante de um paradoxo. Os instrumentos que usávamos para mitigar o temor agora são os mesmos que o produzem, multiplicam e dão uma nova face, difusa e onipresente: a ansiedade.

É possível recuperar a positividade do medo? Em outras palavras, pode o medo ser uma paixão social que leva não ao isolamento do indivíduo nem ao acirramento das diferenças entre “nós” e “eles”, mas que produz laços e cimenta responsabilidades? Se o medo do outro ou do mundo se transformar em medo pelo outro e pelo mundo, talvez seu potencial positivo possa ser recuperado. Trata-se de pensar, então, no medo como uma emoção socializante, isto é, capaz de nos unir na consciência compartilhada de nossa fragilidade.

No segundo bloco, exclusivo para sócio-apoiadores, conversamos sobre eutanásia e suicídio assistido.

Tópicos discutidos: Medo; Política; Emoções; Eutanásia; Suicídio Assistido.

Vamos conversar?

No Youtube: https://youtu.be/lsK8d5UsjpU

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Todavia, o mesmo medo que pode levar à construção de leis e instituições, também pode ser nocivo ao laço social. Como argumentou Elena Pulcini, o medo pode ser tornar socialmente improdutivo ou mesmo nocivo. Na era global, em face dos riscos de catástrofe ambiental, com acirramento de conflitos na esfera política, guerras e genocídios, o medo parece estar mais presente, impregnado no tecido do cotidiano. A violência urbana e suas reações, tema comum no Brasil, é testemunha de como o medo pode levar a cisões e fraturas no social. Na sociedade do risco (Beck), um estado geral de insegurança que não emana da “natureza”, mas resulta dos meios surgidos na modernidade para lidar com o medo (tecnologias, instituições e política), nos coloca diante de um paradoxo. Os instrumentos que usávamos para mitigar o temor agora são os mesmos que o produzem, multiplicam e dão uma nova face, difusa e onipresente: a ansiedade.

É possível recuperar a positividade do medo? Em outras palavras, pode o medo ser uma paixão social que leva não ao isolamento do indivíduo nem ao acirramento das diferenças entre “nós” e “eles”, mas que produz laços e cimenta responsabilidades? Se o medo do outro ou do mundo se transformar em medo pelo outro e pelo mundo, talvez seu potencial positivo possa ser recuperado. Trata-se de pensar, então, no medo como uma emoção socializante, isto é, capaz de nos unir na consciência compartilhada de nossa fragilidade.

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