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A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL MUDARÁ A NOSSA SAÚDE? RICARDO BAPTISTA LEITE
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Hoje é dia de falar de saúde, máquinas inteligentes e líderes inspirados.
Para o caso d ainda não terem notado as máquinas que falam connosco como se fossem humanas estão a invadir o nosso dia-a-dia.
Seja numa página de ‘internet’, na relação com o nosso banco ou com uma qualquer empresa que nos fornece um serviço.
Estes robôs são programados para serem simpáticos, perguntam muitas coisas e querem que carreguemos vezes infinitas em números no telemóvel ou que respondamos a mil perguntas.
E lá vamos andando.
São ainda bastante básicos e eu, confesso, quando fico sem paciência, repito para a máquina “quero falar com um ser humano.”
Ora esses robôs estão também aparecer na área da saúde.
E além deles há outros bastante mais espertos que conseguem organizar gigantescas quantidades de dados e até chegar a melhores conclusões que os humanos. Mas já la vamos.
Este é um episódio com Ricardo Baptista Leite, um jovem médico português que integra a lista da Fundação Obama dos mais promissores líderes mundiais do futuro.
Todos o conhecemos pelo seu percurso na política, mas agora trabalha no desenvolvimento e regulação da chamada “inteligência artificial”. Em particular na área da saúde.
A tecnologia acelera e a dita “inteligência artificial” carrega algumas das mais interessantes promessas de que o mundo será melhor. Ainda com alguns pontos de interrogação, mas já com um vislumbre do que pode ser o futuro onde homem e máquina se fundem para funcionar melhor.
Será o advento de uma nova espécie humana? Do homem biónico ou apenas do homem assistido pelas máquinas?
Já para não pensar na assustadora ideia onde as máquinas passam a controlar tudo ao arrepio da decisão humana.
Ricardo Baptista Leite traz-nos uma visão muito interessante sobre como a tecnologia pode transformar a nossa forma de viver e, sobretudo, o nosso sistema de saúde. Ele acredita que a inteligência artificial não é só mais uma moda, mas algo que pode realmente fazer a diferença na forma como diagnosticamos e tratamos doenças.
amos falar de como as máquinas, em algumas áreas, já superam os médicos humanos na precisão e na rapidez dos diagnósticos, como na radiologia.
E, ao mesmo tempo, exploremos os riscos. Será que esta tecnologia acabará por beneficiar apenas um pequeno grupo de pessoas, deixando muitos de fora?
Na conversa falamos sobre a necessidade de mudarmos ou adaptarmos o nosso sistema de saúde. Ele acredita que trabalhamos reativamente, ou seja, a tratar a doença depois de ela aparecer, que é preciso uma viragem para um modelo mais proativo, focado na prevenção e na promoção da saúde.
E sabem o que é curioso? O Ricardo acha que a inteligência artificial, se usada corretamente, pode ser a chave para essa mudança.
Mas a nossa conversa não se fica apenas pela tecnologia. A empatia é outro tema importante que abordámos. Sabiam que, num estudo recente, os assistentes virtuais, os robôs, os chatbots, foram considerados mais empáticos que os próprios médicos?
Sim, máquinas a mostrar mais empatia que humanos!
Isso diz muito mais de nós humanos do que da habilidade das máquinas.
Durante esta hora de conversa falámos muito sobre o futuro. Como ele vê a evolução dos cuidados de saúde com a introdução de tecnologias avançadas como a inteligência artificial?
E o mais importante, como garantimos que essas inovações são usadas de forma ética e justa,
TÓPICOS
Nomeação para a Fundação Obama
• Ricardo Batista Leite foi reconhecido como um dos futuros líderes pela Fundação Obama, integrando um grupo que aposta em mudanças sociais a partir das comunidades locais.
De político a especialista em inteligência artificial
• Ricardo Batista Leite fez uma transição da política para a área da inteligência artificial, explicando o potencial revolucionário desta tecnologia no setor da saúde.
A promessa da tecnologia
• Abordámos como grandes inovações tecnológicas nem sempre trazem benefícios para todos. Será que a inteligência artificial seguirá esse mesmo caminho?
Reformar o sistema de saúde
• Ricardo Batista Leite defende que é necessário transformar o sistema de saúde, passando de um modelo reativo, focado na doença, para um modelo preventivo e promotor da saúde.
O trabalho na Agência Global de Inteligência Artificial Responsável
• A missão de Ricardo Batista Leite na Agência Global é garantir que a inteligência artificial seja implementada de forma segura e inclusiva, trazendo benefícios para todos os cidadãos.
Privacidade e cibersegurança na saúde
• Com o avanço da inteligência artificial, surgem também desafios relacionados com a proteção de dados de saúde. Ricardo Batista Leite discute os riscos e as medidas necessárias para garantir a segurança digital.
Portugal como hub de inovação na saúde
• Ricardo Batista Leite vê Portugal como um potencial laboratório para novas tecnologias na saúde, atraindo investimentos e criando oportunidades no setor.
O poder da empatia no sistema de saúde
• A empatia e o humanismo são fundamentais nos cuidados de saúde, melhorando tanto a satisfação dos pacientes quanto os resultados clínicos. Ricardo Batista Leite explora esta questão em detalhe.
Voluntariado na guerra da Ucrânia
• A experiência de Ricardo Batista Leite como voluntário na Ucrânia, onde testemunhou o esforço para manter o sistema de saúde a funcionar em plena guerra.
Superutilização das urgências em Portugal
• Por que tantos portugueses recorrem às urgências hospitalares? Ricardo Batista Leite reflete sobre esta tendência e o que pode ser feito para mudar a perceção pública.
Inteligência artificial e diagnósticos médicos
• A inteligência artificial já supera o ser humano em áreas como a radiologia, mas Ricardo Batista Leite argumenta que a combinação entre máquina e humano é a chave para o futuro dos diagnósticos.
Máquinas mais empáticas que humanos?
• Um estudo revelou que, em termos de empatia, os assistentes virtuais foram avaliados como mais humanos do que os próprios médicos. Ricardo Batista Leite reflete sobre esta tendência preocupante.
Dilemas éticos da inteligência artificial
• Discutimos os dilemas morais que surgem quando uma inteligência artificial comete erros incompreensíveis. Ricardo Batista Leite defende que o ser humano deve sempre estar no circuito decisório.
Um sistema de saúde mais digitalizado
• Ricardo Batista Leite imagina um futuro onde a inteligência artificial gere consultas, diagnósticos e tratamentos, simplificando processos e reduzindo a burocracia.
Lições da pandemia
• Durante a pandemia de COVID-19, Ricardo Batista Leite regressou ao hospital para trabalhar na urgência, o que lhe deu uma perspetiva privilegiada sobre os desafios do sistema de saúde.
Voluntariado e a experiência na Ucrânia
• Ricardo Batista Leite partilha a sua experiência de voluntariado num hospital da Ucrânia, onde viu de perto os efeitos devastadores da guerra e a resiliência da população.
LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO00:00:00:00 – 00:00:25:20
JORGE CORREIA
Viva Ricardo Batista Leite, médico com formação em doenças infecciosas, agora dedicado à inteligência artificial e o seu uso dentro da área da saúde. Mas notícia dos últimos dias é que passaste a fazer parte do clube do senhor Obama como reconhecido uma das 36 personalidades como líder do futuro na área da saúde.
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JORGE CORREIA
Som ou mais geral?
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RICARDO BAPTISTA LEITE
Viva George e obrigado pelo convite. E o presidente Obama? E é da mulher também do presidente Obama. Michael é e é de facto um grupo de liderança, chamemos lhe assim e portanto, de âmbito geral, onde me encontro com várias pessoas que foram selecionadas pela fundação do casal Obama, desde pessoas do mundo corporativo a mundo das organizações não governamentais ao mundo da política e que são escolhidos de várias partes do mundo precisamente para fazerem parte desta família em quem a Fundação aposta do ponto de vista formativo, a dar competências de liderança para, por via daquilo que é o modelo para a mudança que eles definem, que aliás, eles chamam de a esperança para a mudança.
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JORGE CORREIA
Como é que é essa mudança?
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RICARDO BAPTISTA LEITE
É uma mudança focada muito na experiência do casal Obama, ou melhor, inspirada na experiência do casal Obama de mudança de base comunitária. Todos sabem que o presidente Obama, antes de ser político, era um organizador comunitário.
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JORGE CORREIA
De grupos activistas que lá andava e junto da comunidade, à procura do problema da comunidade e também de activistas da comunidade para tentar resolver os problemas.
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RICARDO BAPTISTA LEITE
Tentar mobilizar esforços, mobilizar as várias pessoas que poderiam fazer a diferença e mobilizar lhes para de facto mudarem a sociedade num determinado aspecto que fosse considerado como prioritário. E isso diz me muito pessoalmente. Toda a minha vida foi sempre também numa lógica de serviço, ou seja, do ponto de vista associativo, seja do ponto de vista político, seja agora a liderar uma fundação sem fins lucrativos em Genebra, ou questão de missão e de serviço, sempre estiveram na base de tudo o que foi fazendo e, portanto, quando foi um processo de candidatura para fazer parte desta e desta equipa de liderança, digamos assim, da Fundação Obama e ter sido o primeiro português é um motivo que me
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RICARDO BAPTISTA LEITE
deixa particularmente satisfeito. Faltava a nossa bandeira ali nos Estados Unidos, para a entrevista.
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JORGE CORREIA
Como é que este processo foi formalmente.
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RICARDO BAPTISTA LEITE
O processo de candidatura? Uma pessoa tem que manifestar a sua disponibilidade. De facto, o que é que.
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JORGE CORREIA
Te motivou para dar esse passo?
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RICARDO BAPTISTA LEITE
Olha, foi algo que o faço desde há muitos anos, que é de procurar processos de formação, formações executivas, o que seja sobretudo nas áreas da liderança e da gestão que que me ajudem a ganhar competências nessas matérias aí. E tenho feito, nomeadamente mais por via universitária. Mas de facto, chamar a atenção para este preste iniciativa da Fundação Obama, que tem uma forte componente formativa e eu já comecei essa formação.
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JORGE CORREIA
Portanto uma espécie de universidade.
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RICARDO BAPTISTA LEITE
É uma espécie de formação pós graduada.
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JORGE CORREIA
Se quiser o que lá está, que conteúdos é que é que lá está?
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RICARDO BAPTISTA LEITE
Bom, eu só para dizer eu candidatei e depois aquilo é um processo de entrevistas e vídeos e é um processo muito longo. Foram cerca. Foi quase um ano de avaliação até ser finalmente anunciado a formação em si. Posso dizer que é uma formação mista, ou seja, dão nos muitos materiais de leitura. Temos uma um encontro semanal, independentemente de onde estivermos no mundo, durante duas horas e pouco, todas as semanas temos um encontro e esses encontros são para discutir os materiais que nos foram distribuídos nessa semana.
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RICARDO BAPTISTA LEITE
Somando se a isso, normalmente reuniões, conversas com figuras que a Fundação identifica que nos possam ajudar. Posso dizer, por exemplo, esta semana reuni com o Ben Rockets, que foi o Spin writter principal de Barack Obama e também foi o especialista de segurança do gabinete do Obama durante a sua presidência.
00:04:20:14 – 00:04:22:01
JORGE CORREIA
E a maneira de lhes fazer perguntas.
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RICARDO BAPTISTA LEITE
Durante as interações. E o mais engraçado é que todos aqueles que colaboram connosco por via da Fundação, depois estão disponíveis a fazer reuniões 1A1 e, portanto, fazer caminhos de, se quisermos, de mentoria, de apoio nesse processo de liderança, o que é uma experiência fantástica. Digamos que a cereja no topo do bolo e no final de tudo, somos todos convidados para a inauguração da biblioteca Presidencial em Chicago, onde iremos conhecer o casal Obama e, portanto.
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RICARDO BAPTISTA LEITE
Mas aquilo que nos informam que acreditamos no processo a seleção dos candidatos final, A palavra final é dado ao casal Obama e, portanto, é bom ver que viram o nome de Portugal lá pelo meio.
00:05:03:03 – 00:05:26:21
JORGE CORREIA
É útil, seguramente. Portanto, olham para um, para um perfil e, no fundo, um centro de estudos avançados sobre os processos de liderança. O que me faz desde já perguntar que alguém que teve uma carreira política na realidade e que agora decidiu por momentos nossas, fez uma pausa porque se está na Fundação Obama, se calhar não há pausa nenhuma.
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JORGE CORREIA
Ir para uma por uma carreira um pouco menos formal, em que te dedicas a pensar a saúde não só na parte da liderança, mas também do uso dessa tecnologia que está na moda. E a minha pergunta para ti é isto vai mesmo revolucionar isto ou é mais uma promessa da tecnologia que depois ficará a meio do caminho?
00:05:46:22 – 00:06:11:10
RICARDO BAPTISTA LEITE
Eu Eu li o livro há uns tempos atrás, chamado Poder e Progresso, que olha para a evolução das tecnologias ao longo do último milénio e ao longo dos últimos 1000 anos. Quem inventou as tecnologias que iam surgindo quase sempre consistentemente, prometiam que a tecnologia que traziam naquele momento para a sociedade iria revolucionar o mundo e resolver todos os problemas que a humanidade enfrenta.
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JORGE CORREIA
Esta é que é esta.
00:06:12:11 – 00:06:25:20
RICARDO BAPTISTA LEITE
Exato. E o que é que normalmente aconteceu ao longo desses 1000 anos? Houve uma enorme concentração de poder e de riqueza num grupo muito restrito de pessoas, sem ter tido o impacto prometido na população em geral.
00:06:25:22 – 00:06:36:02
JORGE CORREIA
Porque é isso que acontece Geralmente, quando alguém detém uma determinada tecnologia e, portanto, pensa nela em função de enriquecer ou de dominar as massas.
00:06:36:04 – 00:07:00:14
RICARDO BAPTISTA LEITE
E por isso, a pergunta que se coloca é a inteligência artificial vai sofrer do mesmo mal numa escala se calhar muito superior pela sua pelo seu poder transformador? E eu diria que o risco existe e essa foi se calhar uma das razões que me motivou a mudar tão radicalmente de vida. E daí sair da minha vida política. Foi o click.
00:07:00:16 – 00:07:15:14
RICARDO BAPTISTA LEITE
Foi precisamente. Foram dois. Dois fatores, eu diria principais ou três. Primeiro eu queria fazer a mudança e sentir que posso fazer a mudança e de querer fazê lo num ambiente um pouco diferente daquilo que estava a fazer. Já tinham sido mais de dez anos de vida parlamentar. Depois de uma pandemia muito dura.
00:07:15:17 – 00:07:20:20
JORGE CORREIA
Precisaste de coisas mais práticas e um bocadinho menos de retórica política. E posso ter, Posso provocar.
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RICARDO BAPTISTA LEITE
Por pôr a mão na massa. Faz me falta e eu gosto de criar coisas. Já criei várias iniciativas ao longo da minha vida e ter essa possibilidade também de aperfeiçoar e aplicar muito os meus conhecimentos num contexto de liderança, de gestão de equipas, num contexto internacional, mas também trazendo aquilo que também ganhei com a política. Sem dúvida, essas relações.
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RICARDO BAPTISTA LEITE
E da parte da diplomacia, ou a questão também do impacto que a inteligência artificial que eu antevejo que pode ter naquilo que estávamos a falar, ou seja, sem nós criarmos um modelo que fomente a inclusividade, que fomente a equidade. Desde o início, esta revolução inteligente, como muitos lhe chamam, corre o risco de seguir o mesmo caminho de outras tecnologias, ou seja, de nós acabarmos com uma tecnologia concentrada para meia dúzia de pessoas a beneficiar meia dúzia de pessoas em vez de beneficiar a totalidade da humanidade.
00:08:14:03 – 00:08:31:21
RICARDO BAPTISTA LEITE
O tal livro que eu mencionava e detetou situações em que foi possível à humanidade que desde a sua fase inicial desenhar essas tecnologias de modo a serem desenhadas para terem um impacto universal e possível, nós, de facto, ambicionávamos esse impacto para a população em geral.
00:08:32:00 – 00:08:57:22
JORGE CORREIA
O que é que nós temos que fazer para garantir que essa tecnologia que hoje eu percebo como estando nas mãos das grandes tecnológicas laçadas Google desta vida, das dos chats, GP3 e por aí fora, que é uma tecnologia que nós percebemos que está a produzir coisas que nos por um lado nos surpreende a dizer uau, isto já está assim e nós não sabemos da missa a metade, Tu provavelmente saberás muito mais até do que o Duque do que eu, seguramente, e do que a maioria das pessoas.
00:08:57:24 – 00:09:06:21
JORGE CORREIA
E, por outro lado, como é que se pode democratizar isso, por um lado, e, por outro lado, controlar que o seu uso seja positivo?
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RICARDO BAPTISTA LEITE
Bom, isso vai muito na linha daquilo que é o nosso trabalho na Agência Global para a Inteligência Artificial Responsável na saúde, o.
00:09:13:11 – 00:09:14:08
JORGE CORREIA
Que é que faz exigência?
00:09:14:13 – 00:09:44:04
RICARDO BAPTISTA LEITE
Nós, O que nós fazemos e trabalhamos com os governos, Somos um parceiro de implementação. Trabalhamos com a Organização Mundial de Saúde, que tem um assento no nosso board e com os vários governos com quem nós trabalhamos a ajudar a construir a sua capacidade de regulamentar. E, portanto, nós hoje já temos. Vamos pegar no exemplo de Portugal, temos o Infarmed, que avalia a entrada de medicamentos antes de os medicamentos poderem ser vendidos no nosso país, para garantir que são seguros, que têm qualidade e são eficazes.
00:09:44:06 – 00:09:53:08
RICARDO BAPTISTA LEITE
E depois põe em marcha um processo de avaliação pós entrada no mercado. Ou seja, vão monitorizando, garantindo que aqueles medicamentos são seguros efetivamente à medida que vão sendo usados e um.
00:09:53:08 – 00:10:06:22
JORGE CORREIA
Regulador e um polícia cria as regras de mercado, cria aquilo que é fundamental. A diferença, lá está, a segurança de não segurança. E no fundo, é um grande olho que monitoriza a maneira como as coisas.
00:10:06:22 – 00:10:40:03
RICARDO BAPTISTA LEITE
Estão a correr. É um garante também de qualidade e por isso, por via disso, consegue construir uma relação de confiança dos consumidores, dos cidadãos, das instituições a usarem essa tecnologia, particularmente na área da saúde, onde um erro do ponto de vista do uso de uma tecnologia que nós queremos confiar para fazer cirurgias robóticas, para fazer apoiar a decisão clínica ou que seja, é fundamental que essa confiança exista e que a qualidade das ferramentas exista e também tenhamos mecanismos para detetar eventuais erros, tal como já temos para os produtos farmacêuticos, para os dispositivos médicos.
00:10:40:09 – 00:11:00:12
RICARDO BAPTISTA LEITE
Mas isto leva nos aquela tua pergunta anterior o que é que motivou a mudança? E a principal razão eu não mencionei. Tem a ver com algo que até escrevi num livro. Publiquei em 2020 com o Dom Quixote, que quero um caminho para a cura, em que eu mencionava que era fundamental uma mudança do nosso sistema de saúde. Hoje, o sistema de saúde é um sistema reactiva.
00:11:00:12 – 00:11:07:17
RICARDO BAPTISTA LEITE
A doença é um sistema em que não premeia quando nós melhoramos a qualidade de vida e a saúde da população.
00:11:07:17 – 00:11:15:23
JORGE CORREIA
Pelo contrário, paga mais até para Para tratar as doenças mais complicadas. Há quase um estímulo à doença e, ao invés de estimular a saúde.
00:11:16:00 – 00:11:36:09
RICARDO BAPTISTA LEITE
São só um hospital ou numa unidade local de saúde deixar de ter doentes porque foi muito eficaz a prevenir essas doenças, deixou de receber dinheiro e, portanto, é um disparate. Estamos a pagar para que as instituições mantenham os doentes. E assim, e para além disso, a quase aqui, por força de várias circunstâncias, um quase um estímulo a ida ao serviço de urgências.
00:11:36:11 – 00:11:38:12
RICARDO BAPTISTA LEITE
E temos uma cultura ainda muito focada nisso.
00:11:38:12 – 00:11:48:05
JORGE CORREIA
Portanto, temos uma ideia da doença. Por outro lado, um estímulo à procura, porque o financiamento depende disso, é subverter o fim do sistema de saúde.
00:11:48:11 – 00:12:17:01
RICARDO BAPTISTA LEITE
Sim, o sistema está partido e, portanto, o sistema de saúde, como hoje existe, não é só em Portugal. Nos sistemas ocidentais é um modelo de partido avariado, não funciona e que leva insustentável lidade no futuro. Ou seja, a continuar assim, só vai acontecer uma de duas coisas Nenhum político no país terá a coragem de dizer que o SNS vai acabar porque equiparou se quase ao nível religioso e, portanto, o que vai acontecer é aquilo que já se verifica que vão aumentando as listas de espera, vão aumentando as dificuldades no acesso.
00:12:17:02 – 00:12:18:11
JORGE CORREIA
Vai degradando.
00:12:18:13 – 00:12:44:01
RICARDO BAPTISTA LEITE
Paulatinamente, sem que ninguém assuma. E o que é que acontece? Quem tem recursos próprios recorre ao privado, recorre ao estrangeiro para resolver o seu problema particular. Quem não tem esse recurso fica nestas listas de espera. É exatamente isso que eu acredito que esta mudança de visão do modelo reactiva a doença para um modelo proativo de promotor da saúde, que consiga reduzir a carga da doença, que tenha um foco em garantir que a população está mais saudável que a inteligência artificial.
00:12:44:03 – 00:13:04:15
RICARDO BAPTISTA LEITE
Traz nos aqui a tecnologia que nos faltava para conseguir utilizar os dados em massa de forma estruturada, de modo a orientar o sistema, redesenha lo a criar novos modelos de financiamento no final do dia, a garantir uma população mais saudável. E no fundo, essa também é a nossa missão. É de ajudar os países a criar ecossistemas que promovam a saúde.
00:13:04:21 – 00:13:31:04
JORGE CORREIA
Então começamos por onde? Os sistemas são muito complexos. Eu lembro me sempre de uma das coisas mais fascinantes que os sistemas de saúde têm é que o sistema de saúde português tem nos últimos três anos. Nos últimos 30 anos, eu fui, por curiosidade, olhar para os programas eleitorais dos vários partidos e dos partidos que foram governo. Mas está lá em todos os programas eleitorais, da esquerda à direita, uma linha que diz assim.
00:13:31:06 – 00:13:56:07
JORGE CORREIA
Vamos dar um médico de família a cada português e todos falham. E eu dediquei me a pensar sobre isto e pensar assim Se é um problema que está. Diagnosticado, se é um problema que os partidos acham que é para resolver, se há recursos, em princípio há recursos. E é muito curioso como é que aparentemente um problema que seria muito simples de resolver não se resolve.
00:13:56:09 – 00:13:59:11
JORGE CORREIA
E é o custo Começavas por onde é que?
00:13:59:13 – 00:14:13:04
RICARDO BAPTISTA LEITE
Bom, é curioso que agora falando da inteligência artificial, há quem fale na visão de termos 8 mil milhões de médicos assistentes no telefone de cada um no nosso bolso e, portanto, isso levava nos. Até podemos falar sobre a questão dos assistentes virtuais e.
00:14:13:10 – 00:14:14:23
JORGE CORREIA
Do rádio.
00:14:15:00 – 00:14:39:00
RICARDO BAPTISTA LEITE
E qual eficazes serão no futuro e e quão e quão potente serão também. Agora, quanto àquilo que é a necessidade de resposta da população, é evidente que a questão da cobertura universal é fundamental e eu sou a favor de, sem restrições, olharmos para os meios que existem no nosso país e de, com base nisso, contratualizar mais o que for preciso para garantir essa resposta.
00:14:39:02 – 00:14:59:03
RICARDO BAPTISTA LEITE
Mas isso é um patamar mínimo, algo que Portugal nunca fez. Já fizemos muitas cartas hospitalares, que é uma espécie de mapa de todos os hospitais públicos. Eu acho que nós precisamos é de uma carta de saúde, ou seja, nunca ninguém se sentou no ministério e dizer o que é que existe no nosso país público, privado e social? E o facto de não fazermos isso?
00:14:59:03 – 00:15:20:03
RICARDO BAPTISTA LEITE
O que é que nós acabamos por fazer? Construir coisas ao lado de outras que já existem? E depois temos partes da população que não têm determinadas coberturas que precisam. Se nós, em vez de olharmos para o SNS como algo estanque, mas olhássemos para o SNS como integrado num sistema maior, nós poderíamos olhar para toda essa oferta e tentar colmatar aquilo que falha, garantindo investimentos onde verdadeiramente poderia ter impacto.
00:15:20:03 – 00:15:37:00
JORGE CORREIA
Isso implicava, por exemplo, pegar no mapa de Portugal quase com aqueles alfinetes, agora virtuais, seguramente com várias cores, e dizer aqui nascem se crianças, aqui há mais esta doença que há mais aquela doença, para tentar perceber logo em primeiro lugar, a necessidade epidemiológica para responder.
00:15:37:02 – 00:15:46:08
RICARDO BAPTISTA LEITE
Tal e qual o ver a carga de doença utilizar modelos preditivos de inteligência a célula, até para prever qual a evolução desses modelos com base na evolução dos últimos 20 30 anos.
00:15:46:08 – 00:15:50:16
JORGE CORREIA
Porque esses doentes vão voltar depois, provavelmente com um padrão que é conhecido.
00:15:50:18 – 00:16:07:00
RICARDO BAPTISTA LEITE
E as tendências são relativamente padronizadas e, portanto, nós conseguimos ter uma tendência. Poderá não ser 100%, mas já é o suficiente para tomar decisões políticas e também olhar para aquilo que é a oferta de serviços. Não faz sentido nós estarmos a replicar serviços em todo o lado num país pobre.
00:16:07:04 – 00:16:23:13
JORGE CORREIA
Como eu estou a pensar nos blocos de partos. É um bom exemplo em que discutimos já há vários anos. Ai meu Deus, que não há bloco de partos ai que vai agora fechar no fim de semana. Mas se nós formos olhar verdadeiramente nas nas grandes cidades o número do bloco de partos multiplicou se e é quase um contrasenso.
00:16:23:13 – 00:16:27:24
JORGE CORREIA
Há mais blocos, há mais sítios, há mais hospitais e há menos oferta. É.
00:16:28:01 – 00:16:36:24
RICARDO BAPTISTA LEITE
Mas tem a ver com a lente. Se uma pessoa põe uma lente em que eu só consigo olhar o que existe no setor público e em que um hospital público que não consigo ver mais nada e tudo.
00:16:37:01 – 00:16:38:20
JORGE CORREIA
A complementaridade, no fundo, dá resposta.
00:16:38:24 – 00:17:00:24
RICARDO BAPTISTA LEITE
A uma integração, uma visão de sistema de saúde. Nós temos é de garantir que as pessoas tenham acesso. E hoje em dia nós não estamos com essa e com esse modelo e isso acaba por prejudicar os doentes. No final do dia. E para além disso, acabamos por fazer investimentos, como eu dizia, duplicando investimentos de coisas que já existem, quando poderíamos estar a utilizar dinheiro para outras coisas.
00:17:01:04 – 00:17:13:20
RICARDO BAPTISTA LEITE
Para além disso, a revolução da inteligência que a inteligência artificial nos traz pode ser também um instrumento aqui para mais proativamente o sistema de saúde. Identificar pessoas que potencialmente vão ficar doentes.
00:17:13:22 – 00:17:15:07
JORGE CORREIA
Mas como é que isso faz?
00:17:15:09 – 00:17:18:07
RICARDO BAPTISTA LEITE
Por exemplo, nós, os países que.
00:17:18:09 – 00:17:32:18
JORGE CORREIA
Hoje fazemos rastreios, muito nessa lógica, muito ad hoc, ainda mama cólon. Mas é através de através de modelos de preditivos de que determinado conjunto de condições vão representar doenças.
00:17:32:18 – 00:18:01:05
RICARDO BAPTISTA LEITE
Se juntarmos o conjunto de dados que incluem os dados demográficos, os dados ambientais de onde a pessoa vive hoje, os próprios dados pessoais e clínicos da pessoa, permitindo a integração de toda essa informação. Podemos identificar quem é que irá beneficiar. Se nós tivermos que, por exemplo, priorizar quem vai ser vacinado primeiro por uma determinada vacina, imediatamente, estabelecer uma ordem, garantir que os tais assistentes virtuais imediatamente peçam à pessoa para vir automaticamente ter a marcação feita.
00:18:01:07 – 00:18:22:05
RICARDO BAPTISTA LEITE
Não há razão nenhuma. E tudo isto a um custo muito baixo daquilo, quer que seria necessário para montar isso tudo de forma, de forma manual. Mas mais. E é isto que é também muito importante na questão da integração do sistema de saúde Hoje, cerca de 30% dos portugueses não mais já nem vão ao SNS, não usam o sistema público.
00:18:22:07 – 00:18:35:16
RICARDO BAPTISTA LEITE
O que é que isto implica? Que as decisões de saúde pública feitas hoje em dia em Portugal são feitas não com base nos dados dos portugueses ou dos residentes em Portugal, mas com base nos dados de 70% dos residentes em Portugal.
00:18:35:17 – 00:18:38:17
JORGE CORREIA
Porque os outros dados estão noutro lado qualquer e os sistemas não falam.
00:18:38:21 – 00:19:04:12
RICARDO BAPTISTA LEITE
Não falam, não há qualquer integração e portanto, estamos a tomar decisões políticas com enorme impacto financeiro. O orçamento da saúde são milhares de milhões de euros com base numa visão parcelada da sociedade. Inevitavelmente vai cometer erros porque está a ter uma visão, uma visão tão enviesada daquilo que é a realidade e, portanto, é fundamental. Perguntava me para onde é que se começava.
00:19:04:14 – 00:19:14:09
RICARDO BAPTISTA LEITE
Eu acho que aquilo que seria mais fácil seria criar rapidamente uma agência digital, uma agência de dados em saúde que permitisse integrar esses dados todos a nível nacional. O que é que.
00:19:14:09 – 00:19:15:17
JORGE CORREIA
Faria essa agência?
00:19:15:19 – 00:19:28:14
RICARDO BAPTISTA LEITE
A agência primeiro garantiria que todos os dados a nível nacional estariam estruturados e organizados precisamente para podermos montar e aplicar estas ferramentas de inteligência artificial de modelos preditivos e criar os tais modelos de financiamento que hoje não existem.
00:19:28:14 – 00:19:46:22
JORGE CORREIA
E significa, por exemplo, que eu podia ir aqui ao Hospital de Santa Maria ou ao meu Hospital de Viana do Castelo, ou a um prestador privado que tudo, tudo aquilo que fosse coligido sobre mim, tudo aquilo que os médicos escrevessem sobre mim estaria disponível para eu poder usar noutro sítio qualquer.
00:19:46:24 – 00:20:01:11
RICARDO BAPTISTA LEITE
E mais e mais. Quer dizer, para além dos dados de saúde, quais são os dados que nós consideramos mais sensíveis? São os dados financeiros. E hoje em dia eu pego no meu cartão de crédito uma multibanco e vou à qual eu vou ao Rio de Janeiro. E reconhecem.
00:20:01:11 – 00:20:01:24
JORGE CORREIA
O cartão.
00:20:02:01 – 00:20:30:15
RICARDO BAPTISTA LEITE
Reconhece. Funciona. Pago. Não tem dinheiro, ninguém questiona. Nem sequer pensamos nisto. Reclamamos. Se não funcionar, eu estou num hospital, atravesse a rua, vou para uma clínica ou para outro hospital qualquer. Essa luz já não funciona. Mas isto resulta de que no mercado financeiro existem incentivos financeiros, porque é um negócio e no mercado da saúde, infelizmente, esse tipo de incentivos não funciona, a não ser que quem lidera e neste caso é quem gere o sistema, tem essa responsabilidade.
00:20:30:17 – 00:20:42:20
RICARDO BAPTISTA LEITE
Para além disso, e esta é a parte que eu acho mais fascinante é que se nós criássemos uma agência desta natureza, nós iríamos ter estes dados que tornariam Portugal pelo seu tamanho e por sermos um país europeu. Poderíamos ser um hub.
00:20:42:22 – 00:20:43:12
JORGE CORREIA
Um laboratório.
00:20:43:12 – 00:21:05:08
RICARDO BAPTISTA LEITE
Um laboratório para ensaios clínicos, para atrair as várias indústrias a usar em Portugal para ensaios clínicos, garantindo o acesso precoce a tecnologias de saúde sem baixo custo ou sem custos até para o país. E, potencialmente, isso poderia trazer uma enorme receita de milhões de euros para o país. Por que é que nós não fazemos isso? E os portugueses que estivessem dispostos a ceder os seus dados para contribuir para esta causa?
00:21:05:13 – 00:21:09:16
RICARDO BAPTISTA LEITE
Porque é que não recebem sob a forma de dividendos, um retorno financeiro como se.
00:21:09:16 – 00:21:14:11
JORGE CORREIA
Fossem investidores de uma determinada causa que era de agregação de dados que tenham um valor também económico?
00:21:14:12 – 00:21:39:08
RICARDO BAPTISTA LEITE
Tal e qual porque hoje em dia nós damos os dados gratuitamente às grandes empresas e ninguém reclama. Se nós pudéssemos coligir esses dados e organizá los para ter retorno financeiro e os portugueses poderem, por exemplo, em sede de RS, receber um retorno financeiro e bem, então aí passa a ser mais, mais transparente. Passam a beneficiar diretamente não apenas do ponto de vista financeiro, mas também estarão a contribuir para tornar a população mais saudável como um todo.
00:21:39:13 – 00:21:44:21
RICARDO BAPTISTA LEITE
E Portugal tem o tamanho ideal para poder ser verdadeiramente revolucionário no que diz respeito às tecnologias de informação.
00:21:44:21 – 00:22:23:20
JORGE CORREIA
Porque é que estamos a falar da questão bancária? Mas eu não deixo de me sentir menos confortável em poder partilhar o meu estado de saúde do que o número da minha conta bancária. Pode ser que eu sou pobre e, portanto o número de não tem nada de escandaloso. Mas a questão da informação e da segurança de informação de saúde, que é muito sensível num mundo em que nós cada vez mais ouvimos falar de hackers, de piratas, informáticos, é que e volta e meia ouvimos olha a tua password foi roubada e eu dava como certa e fidedigna que a minha password nunca ia ser roubada.
00:22:23:20 – 00:22:43:08
JORGE CORREIA
E foi. E é uma angústia que que eu tenho que a questão da segurança do cinto, dessa sensibilidade dos dados e dessa no fundo, colocar mecanismos de inteligência artificial que não só vão guardar a minha informação, mas vão pensar sobre ela.
00:22:43:10 – 00:22:58:01
RICARDO BAPTISTA LEITE
Se nós pensarmos, vamos olhar para as notícias dos últimos dez anos. O que é que ouvimos mais em Portugal? Violações de cibersegurança na área financeira ou na área do SNS? Garanto que foi mais nos hospitais do SNS.
00:22:58:04 – 00:23:00:22
JORGE CORREIA
Porque é um incentivo financeiro a proteger esses dados. No lado tudo.
00:23:00:24 – 00:23:03:22
RICARDO BAPTISTA LEITE
Base do negócio do sistema financeiro. Depende de.
00:23:03:23 – 00:23:04:10
JORGE CORREIA
Confiança.
00:23:04:10 – 00:23:26:09
RICARDO BAPTISTA LEITE
E confiança. Neste momento são dezenas de milhares de milhões de dólares que visa Mastercard, que estas empresas investem para estarem um passo à frente. Neste momento nós estamos a ver a ascensão da computação quântica, que tem o potencial de rapidamente poder furar os sistemas de segurança da maioria das instituições públicas europeu.
00:23:26:12 – 00:23:33:12
JORGE CORREIA
E se não for esta um futuro, uma tecnologia qualquer no futuro que pode se pode chegar e pode penetrar nessa e nessa formação.
00:23:33:14 – 00:24:09:03
RICARDO BAPTISTA LEITE
Nós estamos a falar de algo real e que vai nos afetar nos próximos cinco anos. Com acertamento foram preparados, Estamos para isso. Eu diria que há um investimento de cibersegurança, tem que ser claramente aumentado e tem que ser assumido como prioridade precisamente porque os dados são de tal forma sensíveis. Já hoje em dia nós ouvimos casos felizmente menos, mas eu enfim venho eu dar e deveria usar, por exemplo, como por vezes o acesso indevido a registos de pessoas pelas suas ser a positividade como via positivos afetava negativamente o acesso ao crédito habitação.
00:24:09:03 – 00:24:10:09
JORGE CORREIA
A questão dos seguros também, que era.
00:24:10:09 – 00:24:40:23
RICARDO BAPTISTA LEITE
Importante de acesso aos seguros, que não é aceitável, é uma violação de um direito humano. E, portanto, aqui eu acho que tem que haver da parte de quem tem estas responsabilidades. Tem que criar os mecanismos para garantir essa segurança. Ter uma agência com pessoas especializadas nesta matéria é fundamental, porque não tenhamos dúvidas que o digital vai afetar todos os setores, Mas na área da saúde tem um efeito particularmente positivo do ponto de vista de seu potencial de melhoria de saúde.
00:24:40:23 – 00:24:45:24
RICARDO BAPTISTA LEITE
Mas também tem enormes riscos, como aqueles que estamos aqui elencar na prática.
00:24:46:01 – 00:25:08:09
JORGE CORREIA
Se nós pudéssemos ter uma caixinha onde estivessem todos os nossos dados de saúde, claro que isso era bom para o diagnóstico futuro, para sermos melhor acompanhados. Coloca se, pois, a questão do algoritmo e eu não posso deixar de perguntar a um médico que é se você confiaria o seu diagnóstico exclusivamente à inteligência artificial e ao seu algoritmo sem intervenção humana.
00:25:08:11 – 00:25:08:24
RICARDO BAPTISTA LEITE
Neste momento.
00:25:08:24 – 00:25:10:02
JORGE CORREIA
Não.
00:25:10:04 – 00:25:48:02
RICARDO BAPTISTA LEITE
Aquilo que é que se preconiza até no nosso trabalho regulamentar e aquilo que é o que seja manter o ser humano no circuito e, portanto, o processo de decisão final é sempre do ser humano. A responsabilidade legal e deontológica é do ser humano. E nesse ponto que nós estamos agora, eu olhando para o futuro e olhando para as tendências da evolução da tecnologia, há partes do nosso trabalho que eu acho que estarei confortável em delegar as máquinas, a parte administrativa.
00:25:48:04 – 00:26:07:21
RICARDO BAPTISTA LEITE
Eu acho que nenhum de nós se importa de passar já e claramente vai ser a primeira área a evoluir. Depois haverá a parte de recolha de informação. Por exemplo, imaginemos que somos médico doente num consultório e 70% do tempo que o doente está no consultório médico está a olhar para trás de um ecrã de computador.
00:26:07:22 – 00:26:10:10
JORGE CORREIA
Sim, é uma desgraça. O médico está atrás, seus registos.
00:26:10:13 – 00:26:21:17
RICARDO BAPTISTA LEITE
E se nós, nós conseguíssemos eliminar o teclado, iluminar o ecrã e toda aquela informação ser recolhido via áudio e ser transformado nos registos? E o médico no final só tem que aprovar esse.
00:26:21:20 – 00:26:23:17
JORGE CORREIA
Poderíamos estar olhos nos olhos a conversar.
00:26:23:19 – 00:26:55:15
RICARDO BAPTISTA LEITE
Reforçar o lado humano, o lado da empatia que se perdeu objectivamente nos sistemas de saúde ocidentais. Portanto, eu creio que aí vai se evoluir. Há uma outra área que me parece que já estamos a ver os números que são verdadeiramente impactantes, que na área da radiologia a capacidade, a especificidade e sensibilidade de determinadas ferramentas por exemplo, o cancro da mama para olhar para imagens e para prever que uma determinada imagem de uma mama tem ali uma imagem susceptível de poder evoluir para cancro.
00:26:55:17 – 00:26:58:02
RICARDO BAPTISTA LEITE
As máquinas hoje são muito mais eficazes.
00:26:58:04 – 00:27:04:21
JORGE CORREIA
A ideia de encontrar micro padrões que são potencialmente que que os olhos humanos não não inventariam, não.
00:27:04:21 – 00:27:10:20
RICARDO BAPTISTA LEITE
Ouvem e que resultam das máquinas de facto serem treinadas com base em milhões e milhões e milhões de imagens.
00:27:10:20 – 00:27:13:06
JORGE CORREIA
Que têm uma base de dados aprendizagem que é importante.
00:27:13:08 – 00:27:38:17
RICARDO BAPTISTA LEITE
E, portanto, hoje em dia as. As máquinas nessa área, por exemplo, têm melhores resultados do que os seres humanos. Mas os estudos também mostram que uma simbiose máquina maior, o humano, é ainda mais eficaz do que os dois isolados. E, portanto, eu acho que estamos a evoluir para a era ciborgue, se quisermos, ou seja, em que somos simbioses entre humano e máquina.
00:27:38:19 – 00:27:48:14
RICARDO BAPTISTA LEITE
No futuro, haverá componentes em que as máquinas serão melhores. Aí, nós, como seres humanos, como espécie, temos que encontrar onde é que nós, seres humanos, podemos ser melhores do que as máquinas.
00:27:48:14 – 00:28:27:20
JORGE CORREIA
Então deixem perguntar uma coisa que é é e porque é que estamos a falar dos computadores quânticos muito avançados que é? E o dia é que se calhar não, não é muito longe do dia em que estamos a falar em que uma determinada máquina realiza um procedimento, uma cirurgia às cataratas, uma coisa qualquer que com o humano que está ao lado a validar os processos e consegue evoluir de tal maneira que é infinitamente melhor e mais preciso que o ser humano e até tem capacidade de auto aprendizagem e começa a desenvolver uma técnica melhor que o ser humano e portanto, não há nenhuma dúvida que aquela técnica que vai ser, mas que um dia comete
00:28:27:20 – 00:28:50:09
JORGE CORREIA
um erro que ninguém compreende por porque é que aconteceu? Porque a máquina e a sua caixa escura, a sua black box, aprendeu a fazer muito bem, mas no momento em que cometeu um erro, apesar da responsabilidade moral dos seres humanos, nós não compreendemos o que é que estava errado e, portanto, não conseguimos intervir para corrigir a máquina que é demasiado esperta.
00:28:50:11 – 00:29:18:06
RICARDO BAPTISTA LEITE
Aquilo que Whelan Musk se queixa. Mas é precisamente desse dilema. Mas é um dilema moral e resulta da nossa nossa condição humana. E eu, enquanto fundador de Tesla e, portanto, carros elétricos autónomos, ele diz que, proporcionalmente, face à dimensão populacional, há muito menos acidentes com carros autónomos do que com carros conduzidos por seres humanos. No entanto, há X número de acidentes com humanos que ninguém se queixa.
00:29:18:08 – 00:29:41:18
RICARDO BAPTISTA LEITE
Um acidente causado por um carro autónomo. Ai meu Deus, as máquinas vão nos matar a todos. Isso eu acho que é um processo evolutivo de adaptação da espécie a uma nova realidade e vamos ter esta fase em que teremos alguma dificuldade. Daí que o ser humano tem que se manter no circuito para nós nos sentirmos até mais tranquilos, apesar de estatisticamente sabermos que é mais seguro.
00:29:41:18 – 00:30:09:21
RICARDO BAPTISTA LEITE
Apesar de poder haver erros pontuais aqui e ali do que não ser a máquina a fazer. Ou seja, a ideia de que a máquina vai ser infalível e só quando ela for totalmente infalível é que substitui o ser humano é que me parece uma abordagem errada. O que nós temos é que ter um modelo de mitigação de risco em que a transição para a máquina deve ocorrer, quando claramente supera largamente, estatisticamente aquilo que é a capacidade humana e quando a sociedade estiver preparada para tal.
00:30:09:23 – 00:30:25:08
RICARDO BAPTISTA LEITE
E é nesse equilíbrio ético, moral, jurídico regulamentar que nós temos que nos encontrar. Dou o exemplo do elevador. O elevador é um excelente exemplo, porque quando enfim, as pessoas não queriam usar a elevadores no século XIX, tinham medo.
00:30:25:10 – 00:30:26:10
JORGE CORREIA
Bem, bem as compreender.
00:30:26:12 – 00:30:51:23
RICARDO BAPTISTA LEITE
Razão e, portanto, o engenheiro Otis, na Feira Mundial de Nova Iorque, em 1853, decidiu mostrar o seu elevador e montou um elevador enorme em Brin Park, em Nova Iorque, e subiu para o topo do elevador e depois pediu a frente de milhares de pessoas o seu assistente para cortar o cabo e quando cortou o cabo, o elevador começou a cair e travou porque o engenheiro tinha montado um sistema de segurança.
00:30:52:00 – 00:31:12:06
RICARDO BAPTISTA LEITE
Aplausos. A população adorou e começou se a construir uma relação de confiança com o elevador que levou a que Nova Iorque se tornasse um dos primeiros, uma das primeiras metrópoles do mundo a ter arranha céus. Mas durante quase 100 anos, o mesmo em Nova Iorque, foi necessário criar a profissão do ascensorista, ou seja, do operador de.
00:31:12:06 – 00:31:15:08
JORGE CORREIA
Elevador, que nos dá a confiança de que está tudo bem porque é.
00:31:15:08 – 00:31:36:03
RICARDO BAPTISTA LEITE
Um ser humano. Carrega no botão e é curioso. Sabe como é que acabou a profissão? Foi porque creio que na década de 60, 70 do século passado, os ascensoristas achavam que ganhavam pouco e decidiram entrar em greve. E quando entraram em greve, as pessoas perceberam que os elevadores funcionavam na mesma e, portanto, é preciso ter algum cuidado na luta pelos direitos laborais.
00:31:36:03 – 00:32:02:13
JORGE CORREIA
Portanto, não foi, não foi. Então, grande coisa. Olha, já força aqui a questão dos chatbots dos robôs com quem nós estamos a falar é que que às vezes até nos atendem o telefone até fazem chamadas. Eu tenho uma irritação profunda em relação ao chatbots, porque aquilo tem um algoritmo, segue um percurso. Fico sempre com a sensação de que aquilo me faz perder mais tempo e eu só digo o que é que desejo de quero falar com o humano, Quero falar com o humano, mas.
00:32:02:13 – 00:32:16:14
JORGE CORREIA
Mas ouvi te falar noutro dia de da comparação entre robôs e humanos que respondem a problemas de pessoas da saúde e depois faz uma avaliação de quem é que foi mais humano a responder O que é que aconteceu nesse jogo?
00:32:16:16 – 00:32:47:09
RICARDO BAPTISTA LEITE
Foi um estudo de abril de 2023 e portanto o ano passado, em que basicamente metade dos doentes usava um assistente virtual para esclarecer dúvidas, para tratar da sua doença. Metade das respostas foram dadas por médicos reais e outra metade por máquinas geradas por inteligência artificial. Em termos de ganhos em saúde, claramente as máquinas ganharam. Mas depois, quando fizeram um inquérito aos doentes sobre quem mostrou mais empatia, as máquinas ganharam também.
00:32:47:11 – 00:32:47:18
JORGE CORREIA
Disse.
00:32:47:18 – 00:33:01:18
RICARDO BAPTISTA LEITE
É preocupante ou reflete aquilo que é a natureza humana, aquilo que para nós, seres humanos, nós tiramos. Dormimos mal à noite, acordamos mal dispostos e vamos por vezes para o trabalho e refletimos isso no nosso dia a dia.
00:33:01:20 – 00:33:07:16
JORGE CORREIA
E quem está a ouvir está a dizer a esta pessoa É super aborrecida, sem saber que é saber o que é que acontece, saber o contexto.
00:33:07:20 – 00:33:26:14
RICARDO BAPTISTA LEITE
Exato ou se aproxima a hora de almoço ficamos com fome. Há um outro estudo que olha para os juízes nos Estados Unidos da América e percebeu que, quase consistentemente, por todos os Estados Unidos, as sentenças são mais duras na hora antes da hora de almoço.
00:33:26:16 – 00:33:31:05
JORGE CORREIA
E grande azar. Então quando é que me calha? A mim? É sempre importante quem for a tribunal.
00:33:31:07 – 00:33:33:05
RICARDO BAPTISTA LEITE
Seja depois da hora do vencedor ou.
00:33:33:06 – 00:33:35:19
JORGE CORREIA
Leva os homens levam a esposa.
00:33:35:21 – 00:33:57:24
RICARDO BAPTISTA LEITE
E, portanto, o que é que isto nos deve fazer refletir? Que, sobretudo na máquina da saúde, os profissionais estão cansados, têm pouco tempo para lidar com os doentes. Para além disso, por cima disto, têm que lidar com as tarefas administrativas, lidar com os computadores e os teclados e por aí fora. Nós temos que recentrar o humanismo e a humanidade.
00:33:58:03 – 00:33:59:01
JORGE CORREIA
Como é que se faz.
00:33:59:03 – 00:34:25:22
RICARDO BAPTISTA LEITE
Que o nosso funcionamento em sistema de saúde? Houve um dos autores publicar outro livro que era o Compaixão Nomex Quero olhar para a economia da compaixão aplicada à saúde e basicamente, o que fizeram foi encontrar um conjunto de métricas para medir empatia e compaixão e depois criaram um modelo de incentivos para os hospitais onde queriam aplicar essas métricas, premiando os gestores e os profissionais que cumprissem um conjunto de métricas.
00:34:25:24 – 00:34:29:02
RICARDO BAPTISTA LEITE
Não só melhoraram os inquéritos de satisfação dos utentes.
00:34:29:02 – 00:34:35:00
JORGE CORREIA
Sim, Até porque muitas reclamações têm a ver exatamente com essa dificuldade de comunicação e com a incompreensão.
00:34:35:02 – 00:34:49:17
RICARDO BAPTISTA LEITE
De empatia. Precisamente de incompreensão da parte profissional. Não só melhoraram significativamente a satisfação dos utentes, mas o mais curioso, para mim, é que conseguiram fazer isso, ao mesmo tempo que melhoraram significativamente os ganhos em saúde. E, portanto.
00:34:49:17 – 00:34:50:14
JORGE CORREIA
Como é que isso?
00:34:50:16 – 00:35:20:13
RICARDO BAPTISTA LEITE
Porque está mais do que demonstrado. E este livro corrobora aquilo que todos os outros estudos mostram empatia. E a compaixão é humanismo, são componentes fundamentais para as pessoas melhorarem a sua saúde. Não é por acaso que, por exemplo, quando se fala sobre os estudos da fé aplicadas à saúde, uma pessoa com fé, uma pessoa com positividade, a verdade é que consegue ter melhores resultados finais do ponto de vista de ganhos em saúde da sua problema de saúde do que as pessoas que não têm e, portanto, é preciso nós termos esta visão humanista.
00:35:20:13 – 00:35:45:11
RICARDO BAPTISTA LEITE
E eu acho que começando nas escolas de formação, até quem gere o sistema tem que se olhar para as tecnologias. E eu penso que inteligência artificial é uma oportunidade única para isto, para dizer ok, nós, este modelo de saúde centrada nos hospitais e por aí fora serviu, serviu durante décadas e serviu durante séculos. Mas vamos repensar se nós não tivéssemos este modelo como existe hoje, como é que fomos repensar o modelo do futuro.
00:35:45:11 – 00:35:48:23
JORGE CORREIA
E, portanto, esse click do digital podia ajudar nisso.
00:35:49:01 – 00:35:51:16
RICARDO BAPTISTA LEITE
Não tenho dúvidas que pode ser até o centro dessa reforma.
00:35:51:18 – 00:36:13:03
JORGE CORREIA
Podemos voltar à comparação anterior, que era quando eu estava a falar do cartão multibanco e é de facto a nossa vida de todos nós melhorou muito. Nós passamos a fazer coisas de uma forma mais, mais fácil, pois esse é que é o problema. Gastamos mais dinheiro e não é só isso que as taxas não baixaram. Está se os bancários subiram e eu agora fiquei sempre a pensar espera lá a minha vida até melhora na saúde e depois vou continuar a pagar a conta ainda.
00:36:13:04 – 00:36:42:03
JORGE CORREIA
Isto vai ser mais difícil para mim. O problema do controlo do cidadão sobre sobre as coisas é tudo, pois médico é. Tratamos muitas vezes dos cidadãos como de uma forma paternalista, na sua doença, na sua quase se tipo. Acho que o melhor exemplo que eu posso encontrar é veio às urgências. O senhor é uma falsa urgência. Eu ligo quando vocês precisam, faço urgência só até se chorar, não é que.
00:36:42:05 – 00:36:46:17
RICARDO BAPTISTA LEITE
Sim, eu também, Mas precisam que eu acho profundamente infeliz é que.
00:36:46:19 – 00:36:48:12
JORGE CORREIA
É que colocou o Fico na realidade.
00:36:48:14 – 00:37:08:09
RICARDO BAPTISTA LEITE
Ficou e aquilo que é conclusão é que a vasta maioria. Eu creio que essa é a diferença entre quem trabalha de facto de uma urgência e quem olha para isso de uma forma teórica. Quando se trabalha num serviço de urgência, é evidente que pode haver um ou outro caso que as pessoas vão à urgência semanalmente, quase como se fosse uma consulta periódica.
00:37:08:11 – 00:37:14:10
RICARDO BAPTISTA LEITE
Mas mesmo essas olharmos profundamente, muitas vezes um problema de saúde mental subjacente ou de solidão, que.
00:37:14:12 – 00:37:16:08
JORGE CORREIA
Precisam de ajuda de alguma maneira.
00:37:16:10 – 00:37:41:24
RICARDO BAPTISTA LEITE
É certo a religião, a religião, um problema que tem que ser abordado. Eu recordo me no hospital são Francisco Xavier, o Luís Campos fez um trabalho muito interessante de olhar para os chamados super utilizadores do sistema de saúde e criou uma equipa multidisciplinar, incluindo enfermeiros, social, assistentes sociais e por aí fora. E olharam para isso que eram 60 doentes que eram dos mais.
00:37:41:24 – 00:37:43:05
RICARDO BAPTISTA LEITE
Usavam o serviço de urgências para.
00:37:43:05 – 00:37:44:07
JORGE CORREIA
Compreender porque eles foram.
00:37:44:07 – 00:38:06:15
RICARDO BAPTISTA LEITE
Para casa das pessoas com entrevistas longas e perceberam um conjunto de problemas que estava ali subjacente. Resolveram nos e reduziram brutalmente as idas à urgência e melhoraram a saúde das pessoas. E, portanto, aí está mais um dos tais passos que se podem tomar. Já que é, vamos olhar para os 20% que utilizam mais o sistema de saúde e vamos criar equipas que olham para essas pessoas de forma.
00:38:06:17 – 00:38:18:09
RICARDO BAPTISTA LEITE
Aliás, são essas. Provavelmente estão a gastar o maior número de recursos do sistema de saúde. Isso não é bom para elas, não é bom para o sistema e, portanto, há que há oportunidades que nós podemos pegar para melhorar a saúde da população.
00:38:18:09 – 00:38:40:05
JORGE CORREIA
Porque há uma coisa que me fascina, que é podemos discutir as causas, mas que é uma espécie de atracção dos portugueses em relação às urgências. Lá está o hiper uso das doenças, mesmo em zonas onde a cobertura dos médicos de família. Tu tens alguma ideia de porque é que? Porque? Porque é que é tão sexy ir às urgências é a melhor palavra, mas.
00:38:40:07 – 00:38:54:02
RICARDO BAPTISTA LEITE
É tão apelativo. Eu diria que mesmo para quem tem acesso por vezes ao médico de família, primeiro que por vezes não é fácil marcar a consulta, segundo sentem que querem resolver o seu problema mais depressa possível.
00:38:54:03 – 00:38:55:13
JORGE CORREIA
Ali fazem umas análises, fazem uma.
00:38:55:13 – 00:39:33:08
RICARDO BAPTISTA LEITE
Radiografia, fazem tudo entre aspas e portanto, despacham uma lei. E eu creio que isto é uma falsa percepção de rapidez de resolução da sua situação, porque muitas vezes é um. Pense rápido sobre um problema que provavelmente precisaria de uma abordagem muito mais holística, muito mais aprofundada para resolver o seu problema de base. E por isso, se nós não mudarmos o modelo em que a pessoa se sinta verdadeiramente satisfeita ao ir ao seu médico, família ou eventualmente, até antes do médico de família com recurso à tecnologia, ter um conjunto de apoios que até evitem ter que sequer usar o modelo institucional.
00:39:33:10 – 00:39:43:23
JORGE CORREIA
E isso implica em que lá está, que haja, que haja um caminho que haja, que nós confiemos que entramos nesta porta do sistema e que depois, se for necessário, vamos ao sítio B, ao sítio C e que isto é fluído.
00:39:44:00 – 00:40:04:16
RICARDO BAPTISTA LEITE
Vamos imaginar um mundo em que eu sinto me doente e a primeira coisa que eu faço é pegue no telefone e ligue para o assistente, que é um assistente virtual, mas que me parece humano e que me consegue dar um conjunto de informações que avalie, que certa altura entende que deve ser visto por outro ser humano e, portanto, imediatamente coloca me no meu calendário a consulta no dia seguinte e eu vou lá.
00:40:04:16 – 00:40:29:03
RICARDO BAPTISTA LEITE
A consulta é feita sem computadores na sala. É tudo registado virtualmente com inteligência artificial. No final da consulta, imediatamente eu recebo um registo com resumo daquilo que foram as recomendações do profissional de saúde. A maioria dos doentes saem do consultório sem perceber as indicações que foram lhes dado e, portanto, uma compreensão com uma linguagem adaptada ao meu nível de escolaridade e que até pode ser lido se eu não souber ler.
00:40:29:05 – 00:40:38:06
RICARDO BAPTISTA LEITE
E com as receitas médicas e com os exames complementares marcados, é tudo feito de modo a otimizar o meu tempo e o meu percurso dentro da localidade onde eu vivo e.
00:40:38:06 – 00:40:39:24
JORGE CORREIA
A nossa vida melhorava muito.
00:40:40:01 – 00:40:58:06
RICARDO BAPTISTA LEITE
Eu creio que o potencial é brutal e se nós pensarmos que o tempo e o dinheiro que as pessoas gastam a saltar de um sítio para o outro, muitas vezes porque não há uma organização do sistema orientado desta forma, percebemos os enormes ganhos que isto representaria na vida das pessoas e também do ponto de vista da sua saúde.
00:40:58:09 – 00:41:09:21
JORGE CORREIA
Olha, tu tens experiência, obviamente de trabalho hospitalar, de trabalho clínico e decidiste, na altura da pandemia, ir e ir para ir para um banco de urgência. Como é que foi isto? Como é que foi essa experiência para ti?
00:41:09:23 – 00:41:34:21
RICARDO BAPTISTA LEITE
Bom, eu estava no Parlamento na altura e tendo tido a minha formação de base, toda a infectologia, perante uma pandemia por uma doença infecciosa, eu senti me na obrigação de servir naturalmente. Durante a semana estava no Parlamento e, portanto, ofereci me ali ao Hospital de Cascais como voluntário aos sábados e passei durante cerca de um ano a ir todos os sábados.
00:41:34:23 – 00:42:02:04
RICARDO BAPTISTA LEITE
E foi provavelmente das experiências mais importantes para mim nesse contexto. Pandemic Porque se durante a semana eu iria participar em reuniões sobre as famosas reuniões do Infarmed ou em reuniões mais particulares em que na altura eu fazia parte normalmente das delegações do PS junto do Governo para discutir as medidas que iam sendo tomadas nos momentos mais críticos, nos debates, nas comissões de saúde.
00:42:02:06 – 00:42:36:04
RICARDO BAPTISTA LEITE
Eu falaria, eu falava não com base numa visão distante da realidade, a partir dos telejornais, mas a partir da realidade daquilo que o que eu vivia e da realidade também que os meus colegas. Era muito comum colegas até de outros serviços, irem ter aquilo que nós chamamos o convidar. E o que era o espaço de Serviço de Urgência dedicada a convite a dar me nota de coisas que queriam que eu falasse e se queriam que eu destacasse numa próxima intervenção, porque os colegas sentiam que de alguma forma, podia ser a voz daquilo que eram as preocupações, Um momento muito difícil que o país estava a viver.
00:42:36:07 – 00:42:59:18
RICARDO BAPTISTA LEITE
Foi duro, foi muito duro. Começando pela minha família, que durante sete dias por semana, basicamente não me via. Não estava num período de Pandemic muito difícil, com crianças pequenas como qualquer família, enfim, que os teletrabalhadores e por aí fora. Muito, muito difícil. Com uma exposição mediática acima da comum, à qual a família estava habituada com o positivo e o negativo que daí advêm.
00:42:59:20 – 00:43:25:14
RICARDO BAPTISTA LEITE
E, portanto, naturalmente que houve momentos de alguma tensão, mas senti me profundamente privilegiado por poder servir. Como eu disse no início da nossa conversa poder servir a mesma coisa aconteceu passado um ano ou dois, quando rebentou a guerra na Ucrânia com a invasão russa e me pude oferecer para ser voluntária nas férias parlamentares. E tive no verão de 2022.
00:43:25:16 – 00:43:26:18
JORGE CORREIA
Como é que foi essa experiência.
00:43:26:18 – 00:43:46:24
RICARDO BAPTISTA LEITE
No Hospital Regional de Lviv? Foi. Também. Eu nunca tinha trabalhado em contexto de um país de conflito em conflito. Eu estava na cidade do Vivo, portanto distante da linha da frente, Mas por causa disso, era das cidades que recebia mais pessoas a fugirem dessa linha da frente e, portanto, a população habitual dele vivo era de cerca de 1 milhão de pessoas.
00:43:46:24 – 00:44:02:08
RICARDO BAPTISTA LEITE
Naquela altura de mais de 2 milhões de pessoas, o hospital estava sobrevoado e um dos primeiros sítios onde me pediram para ajudar foi no serviço de cuidados Intensivos neonatais. O número de bebés prematuros tinha disparado uma forma louca, porque.
00:44:02:09 – 00:44:03:07
JORGE CORREIA
Causa do stress da guerra.
00:44:03:09 – 00:44:33:05
RICARDO BAPTISTA LEITE
Stresse de guerra, falta de acompanhamento de cuidados parentais e, portanto, acompanhar todo aquele processo. O drama dos profissionais, a forma como os profissionais encaravam aquilo, como fazendo o seu parte no esforço de guerra. Muitos deles podiam ter saído do país, decidiram ficar ali a trabalhar. Esta unidade de cuidados intensivos foi construída, foi real, foi deslocada para um bunker debaixo de terra e 01h00 depois de estar a trabalhar lá, a minha ficha estava colado ao corpo com calor.
00:44:33:07 – 00:45:09:09
RICARDO BAPTISTA LEITE
Estas eram maioria mulheres, profissionais de saúde, enfermeiras e médicas a trabalharem naquele contexto há meses. Agora anos sem luz solar, a tratarem daqueles bebés, foi de facto uma experiência brutal. Depois ainda tive oportunidade, por via da guerra de parlamentares, que aquilo que eu fundei tive uma reunião no âmbito da diplomacia parlamentar com o ministro da Saúde, Viktor Fiasco, e que me impressionou brutalmente, porque nós pensamos sempre na guerra e no ajuda humanitária no contexto de guerra, ou seja, na linha da frente.
00:45:09:11 – 00:45:36:17
RICARDO BAPTISTA LEITE
E era o que ele me dizia a ajuda humanitária está toda na linha da frente. É onde nós temos mais dificuldades, é no resto do país. Neste momento eu tenho que manter, ele dizia. Eu tenho que manter o sistema de saúde a funcionar. As pessoas continuam a ter enfartes, as pessoas continuam a ter diabetes, as pessoas continuam a ter hipertensão arterial, continuam a ter bebés e, portanto, o sistema tem que continuar a fazer um ministro da Saúde a ter que lidar com os problemas de saúde no contexto de guerra, mas ao mesmo tempo ter que manter um sistema de saúde a funcionar é brutal.
00:45:36:17 – 00:45:55:03
RICARDO BAPTISTA LEITE
E quando lhe perguntei como é que nós podemos ajudar mais e fico feliz de ver Portugal está a dar algum apoio nesta área. Eu disse na área de medicina física e reabilitação nós não conseguimos manter o ritmo de produção de próteses para a quantidade de pessoas que estão a pedir perder os membros no contexto de guerra por causa das explosões e dos bombardeamentos.
00:45:55:05 – 00:46:18:05
RICARDO BAPTISTA LEITE
E depois, para além dos próteses, ter todo aquele processo de apoio de medicina física, de reabilitação propriamente dita e, portanto, de uma perspetiva completamente diferente, é um dos momentos mais emocionantes da minha vida. Foi quando terminei e deram me boleia para lá na altura. Ainda hoje não se pode viajar de avião e portanto eu tinha entrado de comboio, mas para sair saí de carro.
00:46:18:05 – 00:46:47:04
RICARDO BAPTISTA LEITE
Tive boleia de um padre do Vivo que me levou para Cracóvia e aquele momento em que o passaporte europeu português me permitiu passar a fronteira e sair de um país de guerra imediatamente, entrar numa autoestrada com aquelas planícies verdes habituais de centro da Europa, com a bandeira europeia ali no meio e perceber que a liberdade está uma fronteira de distância.
00:46:47:06 – 00:47:00:05
RICARDO BAPTISTA LEITE
De facto, percebemos que são nossos vizinhos, são nossos irmãos que estão ali em guerra, que estão a fazer um esforço brutal e que nós temos muita sorte de estar deste lado da fronteira. E isso foi algo que me marcou profundamente.
00:47:00:05 – 00:47:09:18
JORGE CORREIA
Eu já senti saudade como imigrante, nem sequer te sentes como como imigrante a trabalhar agora na Suíça.
00:47:09:20 – 00:47:10:16
RICARDO BAPTISTA LEITE
Suíça, Genebra.
00:47:10:22 – 00:47:14:24
JORGE CORREIA
Mas. Mas como o tratam na realidade? Tu passas dar voltas pelo mundo?
00:47:15:03 – 00:47:42:14
RICARDO BAPTISTA LEITE
Sim, por força das minhas funções, acabo por fazer muitas relações com os governos e com os parceiros chave e, portanto, acabo por viajar, muito embora a base seja seja. Genebra é a minha família fica em Portugal e portanto faço esta estas viagens para trás e para a frente e portanto continuo a ter o pé cá, digamos assim, por via familiar, mas algum distanciamento que leva a alguma saudade.
00:47:42:14 – 00:48:12:16
RICARDO BAPTISTA LEITE
Sim, é inevitável, mas a minha situação é muito privilegiada face a muitos portugueses. A Genebra é uma cidade onde eu não sinto falta do pastel de nata e da marca Portugal, mas eu vejo e eu cresci no Canadá e portanto, eu compreendo muito bem este sentimento que eu vejo na população portuguesa, na Suíça, que é a ideia do Natal e do Agosto, estarmos perto e estarmos longe e trabalhar um ano inteiro para poder regressar ao país.
00:48:12:18 – 00:48:26:07
RICARDO BAPTISTA LEITE
Felizmente não sinto tanto isso porque consigo vir todas as semanas, mas é incrível ver como estes portugueses, muitas vezes os que nasceram fora daqui sentem muito mais a portugalidade estando fora do que muitas vezes por cá.
00:48:26:09 – 00:48:31:11
JORGE CORREIA
Ricardo Teixeira Leite, muito obrigado. Manda um abraço, Ana.
00:48:31:13 – 00:48:32:16
JORGE CORREIA
E parabéns pela menina.
00:48:32:18 – 00:48:34:18
RICARDO BAPTISTA LEITE
Muito obrigado.
188 jaksoa
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Hoje é dia de falar de saúde, máquinas inteligentes e líderes inspirados.
Para o caso d ainda não terem notado as máquinas que falam connosco como se fossem humanas estão a invadir o nosso dia-a-dia.
Seja numa página de ‘internet’, na relação com o nosso banco ou com uma qualquer empresa que nos fornece um serviço.
Estes robôs são programados para serem simpáticos, perguntam muitas coisas e querem que carreguemos vezes infinitas em números no telemóvel ou que respondamos a mil perguntas.
E lá vamos andando.
São ainda bastante básicos e eu, confesso, quando fico sem paciência, repito para a máquina “quero falar com um ser humano.”
Ora esses robôs estão também aparecer na área da saúde.
E além deles há outros bastante mais espertos que conseguem organizar gigantescas quantidades de dados e até chegar a melhores conclusões que os humanos. Mas já la vamos.
Este é um episódio com Ricardo Baptista Leite, um jovem médico português que integra a lista da Fundação Obama dos mais promissores líderes mundiais do futuro.
Todos o conhecemos pelo seu percurso na política, mas agora trabalha no desenvolvimento e regulação da chamada “inteligência artificial”. Em particular na área da saúde.
A tecnologia acelera e a dita “inteligência artificial” carrega algumas das mais interessantes promessas de que o mundo será melhor. Ainda com alguns pontos de interrogação, mas já com um vislumbre do que pode ser o futuro onde homem e máquina se fundem para funcionar melhor.
Será o advento de uma nova espécie humana? Do homem biónico ou apenas do homem assistido pelas máquinas?
Já para não pensar na assustadora ideia onde as máquinas passam a controlar tudo ao arrepio da decisão humana.
Ricardo Baptista Leite traz-nos uma visão muito interessante sobre como a tecnologia pode transformar a nossa forma de viver e, sobretudo, o nosso sistema de saúde. Ele acredita que a inteligência artificial não é só mais uma moda, mas algo que pode realmente fazer a diferença na forma como diagnosticamos e tratamos doenças.
amos falar de como as máquinas, em algumas áreas, já superam os médicos humanos na precisão e na rapidez dos diagnósticos, como na radiologia.
E, ao mesmo tempo, exploremos os riscos. Será que esta tecnologia acabará por beneficiar apenas um pequeno grupo de pessoas, deixando muitos de fora?
Na conversa falamos sobre a necessidade de mudarmos ou adaptarmos o nosso sistema de saúde. Ele acredita que trabalhamos reativamente, ou seja, a tratar a doença depois de ela aparecer, que é preciso uma viragem para um modelo mais proativo, focado na prevenção e na promoção da saúde.
E sabem o que é curioso? O Ricardo acha que a inteligência artificial, se usada corretamente, pode ser a chave para essa mudança.
Mas a nossa conversa não se fica apenas pela tecnologia. A empatia é outro tema importante que abordámos. Sabiam que, num estudo recente, os assistentes virtuais, os robôs, os chatbots, foram considerados mais empáticos que os próprios médicos?
Sim, máquinas a mostrar mais empatia que humanos!
Isso diz muito mais de nós humanos do que da habilidade das máquinas.
Durante esta hora de conversa falámos muito sobre o futuro. Como ele vê a evolução dos cuidados de saúde com a introdução de tecnologias avançadas como a inteligência artificial?
E o mais importante, como garantimos que essas inovações são usadas de forma ética e justa,
TÓPICOS
Nomeação para a Fundação Obama
• Ricardo Batista Leite foi reconhecido como um dos futuros líderes pela Fundação Obama, integrando um grupo que aposta em mudanças sociais a partir das comunidades locais.
De político a especialista em inteligência artificial
• Ricardo Batista Leite fez uma transição da política para a área da inteligência artificial, explicando o potencial revolucionário desta tecnologia no setor da saúde.
A promessa da tecnologia
• Abordámos como grandes inovações tecnológicas nem sempre trazem benefícios para todos. Será que a inteligência artificial seguirá esse mesmo caminho?
Reformar o sistema de saúde
• Ricardo Batista Leite defende que é necessário transformar o sistema de saúde, passando de um modelo reativo, focado na doença, para um modelo preventivo e promotor da saúde.
O trabalho na Agência Global de Inteligência Artificial Responsável
• A missão de Ricardo Batista Leite na Agência Global é garantir que a inteligência artificial seja implementada de forma segura e inclusiva, trazendo benefícios para todos os cidadãos.
Privacidade e cibersegurança na saúde
• Com o avanço da inteligência artificial, surgem também desafios relacionados com a proteção de dados de saúde. Ricardo Batista Leite discute os riscos e as medidas necessárias para garantir a segurança digital.
Portugal como hub de inovação na saúde
• Ricardo Batista Leite vê Portugal como um potencial laboratório para novas tecnologias na saúde, atraindo investimentos e criando oportunidades no setor.
O poder da empatia no sistema de saúde
• A empatia e o humanismo são fundamentais nos cuidados de saúde, melhorando tanto a satisfação dos pacientes quanto os resultados clínicos. Ricardo Batista Leite explora esta questão em detalhe.
Voluntariado na guerra da Ucrânia
• A experiência de Ricardo Batista Leite como voluntário na Ucrânia, onde testemunhou o esforço para manter o sistema de saúde a funcionar em plena guerra.
Superutilização das urgências em Portugal
• Por que tantos portugueses recorrem às urgências hospitalares? Ricardo Batista Leite reflete sobre esta tendência e o que pode ser feito para mudar a perceção pública.
Inteligência artificial e diagnósticos médicos
• A inteligência artificial já supera o ser humano em áreas como a radiologia, mas Ricardo Batista Leite argumenta que a combinação entre máquina e humano é a chave para o futuro dos diagnósticos.
Máquinas mais empáticas que humanos?
• Um estudo revelou que, em termos de empatia, os assistentes virtuais foram avaliados como mais humanos do que os próprios médicos. Ricardo Batista Leite reflete sobre esta tendência preocupante.
Dilemas éticos da inteligência artificial
• Discutimos os dilemas morais que surgem quando uma inteligência artificial comete erros incompreensíveis. Ricardo Batista Leite defende que o ser humano deve sempre estar no circuito decisório.
Um sistema de saúde mais digitalizado
• Ricardo Batista Leite imagina um futuro onde a inteligência artificial gere consultas, diagnósticos e tratamentos, simplificando processos e reduzindo a burocracia.
Lições da pandemia
• Durante a pandemia de COVID-19, Ricardo Batista Leite regressou ao hospital para trabalhar na urgência, o que lhe deu uma perspetiva privilegiada sobre os desafios do sistema de saúde.
Voluntariado e a experiência na Ucrânia
• Ricardo Batista Leite partilha a sua experiência de voluntariado num hospital da Ucrânia, onde viu de perto os efeitos devastadores da guerra e a resiliência da população.
LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO00:00:00:00 – 00:00:25:20
JORGE CORREIA
Viva Ricardo Batista Leite, médico com formação em doenças infecciosas, agora dedicado à inteligência artificial e o seu uso dentro da área da saúde. Mas notícia dos últimos dias é que passaste a fazer parte do clube do senhor Obama como reconhecido uma das 36 personalidades como líder do futuro na área da saúde.
00:00:25:20 – 00:00:27:18
JORGE CORREIA
Som ou mais geral?
00:00:27:20 – 00:01:17:11
RICARDO BAPTISTA LEITE
Viva George e obrigado pelo convite. E o presidente Obama? E é da mulher também do presidente Obama. Michael é e é de facto um grupo de liderança, chamemos lhe assim e portanto, de âmbito geral, onde me encontro com várias pessoas que foram selecionadas pela fundação do casal Obama, desde pessoas do mundo corporativo a mundo das organizações não governamentais ao mundo da política e que são escolhidos de várias partes do mundo precisamente para fazerem parte desta família em quem a Fundação aposta do ponto de vista formativo, a dar competências de liderança para, por via daquilo que é o modelo para a mudança que eles definem, que aliás, eles chamam de a esperança para a mudança.
00:01:17:12 – 00:01:18:17
JORGE CORREIA
Como é que é essa mudança?
00:01:18:19 – 00:01:35:06
RICARDO BAPTISTA LEITE
É uma mudança focada muito na experiência do casal Obama, ou melhor, inspirada na experiência do casal Obama de mudança de base comunitária. Todos sabem que o presidente Obama, antes de ser político, era um organizador comunitário.
00:01:35:10 – 00:01:44:00
JORGE CORREIA
De grupos activistas que lá andava e junto da comunidade, à procura do problema da comunidade e também de activistas da comunidade para tentar resolver os problemas.
00:01:44:02 – 00:02:27:17
RICARDO BAPTISTA LEITE
Tentar mobilizar esforços, mobilizar as várias pessoas que poderiam fazer a diferença e mobilizar lhes para de facto mudarem a sociedade num determinado aspecto que fosse considerado como prioritário. E isso diz me muito pessoalmente. Toda a minha vida foi sempre também numa lógica de serviço, ou seja, do ponto de vista associativo, seja do ponto de vista político, seja agora a liderar uma fundação sem fins lucrativos em Genebra, ou questão de missão e de serviço, sempre estiveram na base de tudo o que foi fazendo e, portanto, quando foi um processo de candidatura para fazer parte desta e desta equipa de liderança, digamos assim, da Fundação Obama e ter sido o primeiro português é um motivo que me
00:02:27:17 – 00:02:34:08
RICARDO BAPTISTA LEITE
deixa particularmente satisfeito. Faltava a nossa bandeira ali nos Estados Unidos, para a entrevista.
00:02:34:10 – 00:02:35:24
JORGE CORREIA
Como é que este processo foi formalmente.
00:02:36:04 – 00:02:41:24
RICARDO BAPTISTA LEITE
O processo de candidatura? Uma pessoa tem que manifestar a sua disponibilidade. De facto, o que é que.
00:02:41:24 – 00:02:43:22
JORGE CORREIA
Te motivou para dar esse passo?
00:02:43:24 – 00:03:14:08
RICARDO BAPTISTA LEITE
Olha, foi algo que o faço desde há muitos anos, que é de procurar processos de formação, formações executivas, o que seja sobretudo nas áreas da liderança e da gestão que que me ajudem a ganhar competências nessas matérias aí. E tenho feito, nomeadamente mais por via universitária. Mas de facto, chamar a atenção para este preste iniciativa da Fundação Obama, que tem uma forte componente formativa e eu já comecei essa formação.
00:03:14:08 – 00:03:15:17
JORGE CORREIA
Portanto uma espécie de universidade.
00:03:15:18 – 00:03:18:08
RICARDO BAPTISTA LEITE
É uma espécie de formação pós graduada.
00:03:18:08 – 00:03:21:11
JORGE CORREIA
Se quiser o que lá está, que conteúdos é que é que lá está?
00:03:21:12 – 00:03:57:24
RICARDO BAPTISTA LEITE
Bom, eu só para dizer eu candidatei e depois aquilo é um processo de entrevistas e vídeos e é um processo muito longo. Foram cerca. Foi quase um ano de avaliação até ser finalmente anunciado a formação em si. Posso dizer que é uma formação mista, ou seja, dão nos muitos materiais de leitura. Temos uma um encontro semanal, independentemente de onde estivermos no mundo, durante duas horas e pouco, todas as semanas temos um encontro e esses encontros são para discutir os materiais que nos foram distribuídos nessa semana.
00:03:58:01 – 00:04:20:12
RICARDO BAPTISTA LEITE
Somando se a isso, normalmente reuniões, conversas com figuras que a Fundação identifica que nos possam ajudar. Posso dizer, por exemplo, esta semana reuni com o Ben Rockets, que foi o Spin writter principal de Barack Obama e também foi o especialista de segurança do gabinete do Obama durante a sua presidência.
00:04:20:14 – 00:04:22:01
JORGE CORREIA
E a maneira de lhes fazer perguntas.
00:04:22:01 – 00:04:49:15
RICARDO BAPTISTA LEITE
Durante as interações. E o mais engraçado é que todos aqueles que colaboram connosco por via da Fundação, depois estão disponíveis a fazer reuniões 1A1 e, portanto, fazer caminhos de, se quisermos, de mentoria, de apoio nesse processo de liderança, o que é uma experiência fantástica. Digamos que a cereja no topo do bolo e no final de tudo, somos todos convidados para a inauguração da biblioteca Presidencial em Chicago, onde iremos conhecer o casal Obama e, portanto.
00:04:49:15 – 00:05:03:01
RICARDO BAPTISTA LEITE
Mas aquilo que nos informam que acreditamos no processo a seleção dos candidatos final, A palavra final é dado ao casal Obama e, portanto, é bom ver que viram o nome de Portugal lá pelo meio.
00:05:03:03 – 00:05:26:21
JORGE CORREIA
É útil, seguramente. Portanto, olham para um, para um perfil e, no fundo, um centro de estudos avançados sobre os processos de liderança. O que me faz desde já perguntar que alguém que teve uma carreira política na realidade e que agora decidiu por momentos nossas, fez uma pausa porque se está na Fundação Obama, se calhar não há pausa nenhuma.
00:05:26:23 – 00:05:46:20
JORGE CORREIA
Ir para uma por uma carreira um pouco menos formal, em que te dedicas a pensar a saúde não só na parte da liderança, mas também do uso dessa tecnologia que está na moda. E a minha pergunta para ti é isto vai mesmo revolucionar isto ou é mais uma promessa da tecnologia que depois ficará a meio do caminho?
00:05:46:22 – 00:06:11:10
RICARDO BAPTISTA LEITE
Eu Eu li o livro há uns tempos atrás, chamado Poder e Progresso, que olha para a evolução das tecnologias ao longo do último milénio e ao longo dos últimos 1000 anos. Quem inventou as tecnologias que iam surgindo quase sempre consistentemente, prometiam que a tecnologia que traziam naquele momento para a sociedade iria revolucionar o mundo e resolver todos os problemas que a humanidade enfrenta.
00:06:11:12 – 00:06:12:08
JORGE CORREIA
Esta é que é esta.
00:06:12:11 – 00:06:25:20
RICARDO BAPTISTA LEITE
Exato. E o que é que normalmente aconteceu ao longo desses 1000 anos? Houve uma enorme concentração de poder e de riqueza num grupo muito restrito de pessoas, sem ter tido o impacto prometido na população em geral.
00:06:25:22 – 00:06:36:02
JORGE CORREIA
Porque é isso que acontece Geralmente, quando alguém detém uma determinada tecnologia e, portanto, pensa nela em função de enriquecer ou de dominar as massas.
00:06:36:04 – 00:07:00:14
RICARDO BAPTISTA LEITE
E por isso, a pergunta que se coloca é a inteligência artificial vai sofrer do mesmo mal numa escala se calhar muito superior pela sua pelo seu poder transformador? E eu diria que o risco existe e essa foi se calhar uma das razões que me motivou a mudar tão radicalmente de vida. E daí sair da minha vida política. Foi o click.
00:07:00:16 – 00:07:15:14
RICARDO BAPTISTA LEITE
Foi precisamente. Foram dois. Dois fatores, eu diria principais ou três. Primeiro eu queria fazer a mudança e sentir que posso fazer a mudança e de querer fazê lo num ambiente um pouco diferente daquilo que estava a fazer. Já tinham sido mais de dez anos de vida parlamentar. Depois de uma pandemia muito dura.
00:07:15:17 – 00:07:20:20
JORGE CORREIA
Precisaste de coisas mais práticas e um bocadinho menos de retórica política. E posso ter, Posso provocar.
00:07:20:22 – 00:07:42:11
RICARDO BAPTISTA LEITE
Por pôr a mão na massa. Faz me falta e eu gosto de criar coisas. Já criei várias iniciativas ao longo da minha vida e ter essa possibilidade também de aperfeiçoar e aplicar muito os meus conhecimentos num contexto de liderança, de gestão de equipas, num contexto internacional, mas também trazendo aquilo que também ganhei com a política. Sem dúvida, essas relações.
00:07:42:11 – 00:08:14:01
RICARDO BAPTISTA LEITE
E da parte da diplomacia, ou a questão também do impacto que a inteligência artificial que eu antevejo que pode ter naquilo que estávamos a falar, ou seja, sem nós criarmos um modelo que fomente a inclusividade, que fomente a equidade. Desde o início, esta revolução inteligente, como muitos lhe chamam, corre o risco de seguir o mesmo caminho de outras tecnologias, ou seja, de nós acabarmos com uma tecnologia concentrada para meia dúzia de pessoas a beneficiar meia dúzia de pessoas em vez de beneficiar a totalidade da humanidade.
00:08:14:03 – 00:08:31:21
RICARDO BAPTISTA LEITE
O tal livro que eu mencionava e detetou situações em que foi possível à humanidade que desde a sua fase inicial desenhar essas tecnologias de modo a serem desenhadas para terem um impacto universal e possível, nós, de facto, ambicionávamos esse impacto para a população em geral.
00:08:32:00 – 00:08:57:22
JORGE CORREIA
O que é que nós temos que fazer para garantir que essa tecnologia que hoje eu percebo como estando nas mãos das grandes tecnológicas laçadas Google desta vida, das dos chats, GP3 e por aí fora, que é uma tecnologia que nós percebemos que está a produzir coisas que nos por um lado nos surpreende a dizer uau, isto já está assim e nós não sabemos da missa a metade, Tu provavelmente saberás muito mais até do que o Duque do que eu, seguramente, e do que a maioria das pessoas.
00:08:57:24 – 00:09:06:21
JORGE CORREIA
E, por outro lado, como é que se pode democratizar isso, por um lado, e, por outro lado, controlar que o seu uso seja positivo?
00:09:06:23 – 00:09:13:11
RICARDO BAPTISTA LEITE
Bom, isso vai muito na linha daquilo que é o nosso trabalho na Agência Global para a Inteligência Artificial Responsável na saúde, o.
00:09:13:11 – 00:09:14:08
JORGE CORREIA
Que é que faz exigência?
00:09:14:13 – 00:09:44:04
RICARDO BAPTISTA LEITE
Nós, O que nós fazemos e trabalhamos com os governos, Somos um parceiro de implementação. Trabalhamos com a Organização Mundial de Saúde, que tem um assento no nosso board e com os vários governos com quem nós trabalhamos a ajudar a construir a sua capacidade de regulamentar. E, portanto, nós hoje já temos. Vamos pegar no exemplo de Portugal, temos o Infarmed, que avalia a entrada de medicamentos antes de os medicamentos poderem ser vendidos no nosso país, para garantir que são seguros, que têm qualidade e são eficazes.
00:09:44:06 – 00:09:53:08
RICARDO BAPTISTA LEITE
E depois põe em marcha um processo de avaliação pós entrada no mercado. Ou seja, vão monitorizando, garantindo que aqueles medicamentos são seguros efetivamente à medida que vão sendo usados e um.
00:09:53:08 – 00:10:06:22
JORGE CORREIA
Regulador e um polícia cria as regras de mercado, cria aquilo que é fundamental. A diferença, lá está, a segurança de não segurança. E no fundo, é um grande olho que monitoriza a maneira como as coisas.
00:10:06:22 – 00:10:40:03
RICARDO BAPTISTA LEITE
Estão a correr. É um garante também de qualidade e por isso, por via disso, consegue construir uma relação de confiança dos consumidores, dos cidadãos, das instituições a usarem essa tecnologia, particularmente na área da saúde, onde um erro do ponto de vista do uso de uma tecnologia que nós queremos confiar para fazer cirurgias robóticas, para fazer apoiar a decisão clínica ou que seja, é fundamental que essa confiança exista e que a qualidade das ferramentas exista e também tenhamos mecanismos para detetar eventuais erros, tal como já temos para os produtos farmacêuticos, para os dispositivos médicos.
00:10:40:09 – 00:11:00:12
RICARDO BAPTISTA LEITE
Mas isto leva nos aquela tua pergunta anterior o que é que motivou a mudança? E a principal razão eu não mencionei. Tem a ver com algo que até escrevi num livro. Publiquei em 2020 com o Dom Quixote, que quero um caminho para a cura, em que eu mencionava que era fundamental uma mudança do nosso sistema de saúde. Hoje, o sistema de saúde é um sistema reactiva.
00:11:00:12 – 00:11:07:17
RICARDO BAPTISTA LEITE
A doença é um sistema em que não premeia quando nós melhoramos a qualidade de vida e a saúde da população.
00:11:07:17 – 00:11:15:23
JORGE CORREIA
Pelo contrário, paga mais até para Para tratar as doenças mais complicadas. Há quase um estímulo à doença e, ao invés de estimular a saúde.
00:11:16:00 – 00:11:36:09
RICARDO BAPTISTA LEITE
São só um hospital ou numa unidade local de saúde deixar de ter doentes porque foi muito eficaz a prevenir essas doenças, deixou de receber dinheiro e, portanto, é um disparate. Estamos a pagar para que as instituições mantenham os doentes. E assim, e para além disso, a quase aqui, por força de várias circunstâncias, um quase um estímulo a ida ao serviço de urgências.
00:11:36:11 – 00:11:38:12
RICARDO BAPTISTA LEITE
E temos uma cultura ainda muito focada nisso.
00:11:38:12 – 00:11:48:05
JORGE CORREIA
Portanto, temos uma ideia da doença. Por outro lado, um estímulo à procura, porque o financiamento depende disso, é subverter o fim do sistema de saúde.
00:11:48:11 – 00:12:17:01
RICARDO BAPTISTA LEITE
Sim, o sistema está partido e, portanto, o sistema de saúde, como hoje existe, não é só em Portugal. Nos sistemas ocidentais é um modelo de partido avariado, não funciona e que leva insustentável lidade no futuro. Ou seja, a continuar assim, só vai acontecer uma de duas coisas Nenhum político no país terá a coragem de dizer que o SNS vai acabar porque equiparou se quase ao nível religioso e, portanto, o que vai acontecer é aquilo que já se verifica que vão aumentando as listas de espera, vão aumentando as dificuldades no acesso.
00:12:17:02 – 00:12:18:11
JORGE CORREIA
Vai degradando.
00:12:18:13 – 00:12:44:01
RICARDO BAPTISTA LEITE
Paulatinamente, sem que ninguém assuma. E o que é que acontece? Quem tem recursos próprios recorre ao privado, recorre ao estrangeiro para resolver o seu problema particular. Quem não tem esse recurso fica nestas listas de espera. É exatamente isso que eu acredito que esta mudança de visão do modelo reactiva a doença para um modelo proativo de promotor da saúde, que consiga reduzir a carga da doença, que tenha um foco em garantir que a população está mais saudável que a inteligência artificial.
00:12:44:03 – 00:13:04:15
RICARDO BAPTISTA LEITE
Traz nos aqui a tecnologia que nos faltava para conseguir utilizar os dados em massa de forma estruturada, de modo a orientar o sistema, redesenha lo a criar novos modelos de financiamento no final do dia, a garantir uma população mais saudável. E no fundo, essa também é a nossa missão. É de ajudar os países a criar ecossistemas que promovam a saúde.
00:13:04:21 – 00:13:31:04
JORGE CORREIA
Então começamos por onde? Os sistemas são muito complexos. Eu lembro me sempre de uma das coisas mais fascinantes que os sistemas de saúde têm é que o sistema de saúde português tem nos últimos três anos. Nos últimos 30 anos, eu fui, por curiosidade, olhar para os programas eleitorais dos vários partidos e dos partidos que foram governo. Mas está lá em todos os programas eleitorais, da esquerda à direita, uma linha que diz assim.
00:13:31:06 – 00:13:56:07
JORGE CORREIA
Vamos dar um médico de família a cada português e todos falham. E eu dediquei me a pensar sobre isto e pensar assim Se é um problema que está. Diagnosticado, se é um problema que os partidos acham que é para resolver, se há recursos, em princípio há recursos. E é muito curioso como é que aparentemente um problema que seria muito simples de resolver não se resolve.
00:13:56:09 – 00:13:59:11
JORGE CORREIA
E é o custo Começavas por onde é que?
00:13:59:13 – 00:14:13:04
RICARDO BAPTISTA LEITE
Bom, é curioso que agora falando da inteligência artificial, há quem fale na visão de termos 8 mil milhões de médicos assistentes no telefone de cada um no nosso bolso e, portanto, isso levava nos. Até podemos falar sobre a questão dos assistentes virtuais e.
00:14:13:10 – 00:14:14:23
JORGE CORREIA
Do rádio.
00:14:15:00 – 00:14:39:00
RICARDO BAPTISTA LEITE
E qual eficazes serão no futuro e e quão e quão potente serão também. Agora, quanto àquilo que é a necessidade de resposta da população, é evidente que a questão da cobertura universal é fundamental e eu sou a favor de, sem restrições, olharmos para os meios que existem no nosso país e de, com base nisso, contratualizar mais o que for preciso para garantir essa resposta.
00:14:39:02 – 00:14:59:03
RICARDO BAPTISTA LEITE
Mas isso é um patamar mínimo, algo que Portugal nunca fez. Já fizemos muitas cartas hospitalares, que é uma espécie de mapa de todos os hospitais públicos. Eu acho que nós precisamos é de uma carta de saúde, ou seja, nunca ninguém se sentou no ministério e dizer o que é que existe no nosso país público, privado e social? E o facto de não fazermos isso?
00:14:59:03 – 00:15:20:03
RICARDO BAPTISTA LEITE
O que é que nós acabamos por fazer? Construir coisas ao lado de outras que já existem? E depois temos partes da população que não têm determinadas coberturas que precisam. Se nós, em vez de olharmos para o SNS como algo estanque, mas olhássemos para o SNS como integrado num sistema maior, nós poderíamos olhar para toda essa oferta e tentar colmatar aquilo que falha, garantindo investimentos onde verdadeiramente poderia ter impacto.
00:15:20:03 – 00:15:37:00
JORGE CORREIA
Isso implicava, por exemplo, pegar no mapa de Portugal quase com aqueles alfinetes, agora virtuais, seguramente com várias cores, e dizer aqui nascem se crianças, aqui há mais esta doença que há mais aquela doença, para tentar perceber logo em primeiro lugar, a necessidade epidemiológica para responder.
00:15:37:02 – 00:15:46:08
RICARDO BAPTISTA LEITE
Tal e qual o ver a carga de doença utilizar modelos preditivos de inteligência a célula, até para prever qual a evolução desses modelos com base na evolução dos últimos 20 30 anos.
00:15:46:08 – 00:15:50:16
JORGE CORREIA
Porque esses doentes vão voltar depois, provavelmente com um padrão que é conhecido.
00:15:50:18 – 00:16:07:00
RICARDO BAPTISTA LEITE
E as tendências são relativamente padronizadas e, portanto, nós conseguimos ter uma tendência. Poderá não ser 100%, mas já é o suficiente para tomar decisões políticas e também olhar para aquilo que é a oferta de serviços. Não faz sentido nós estarmos a replicar serviços em todo o lado num país pobre.
00:16:07:04 – 00:16:23:13
JORGE CORREIA
Como eu estou a pensar nos blocos de partos. É um bom exemplo em que discutimos já há vários anos. Ai meu Deus, que não há bloco de partos ai que vai agora fechar no fim de semana. Mas se nós formos olhar verdadeiramente nas nas grandes cidades o número do bloco de partos multiplicou se e é quase um contrasenso.
00:16:23:13 – 00:16:27:24
JORGE CORREIA
Há mais blocos, há mais sítios, há mais hospitais e há menos oferta. É.
00:16:28:01 – 00:16:36:24
RICARDO BAPTISTA LEITE
Mas tem a ver com a lente. Se uma pessoa põe uma lente em que eu só consigo olhar o que existe no setor público e em que um hospital público que não consigo ver mais nada e tudo.
00:16:37:01 – 00:16:38:20
JORGE CORREIA
A complementaridade, no fundo, dá resposta.
00:16:38:24 – 00:17:00:24
RICARDO BAPTISTA LEITE
A uma integração, uma visão de sistema de saúde. Nós temos é de garantir que as pessoas tenham acesso. E hoje em dia nós não estamos com essa e com esse modelo e isso acaba por prejudicar os doentes. No final do dia. E para além disso, acabamos por fazer investimentos, como eu dizia, duplicando investimentos de coisas que já existem, quando poderíamos estar a utilizar dinheiro para outras coisas.
00:17:01:04 – 00:17:13:20
RICARDO BAPTISTA LEITE
Para além disso, a revolução da inteligência que a inteligência artificial nos traz pode ser também um instrumento aqui para mais proativamente o sistema de saúde. Identificar pessoas que potencialmente vão ficar doentes.
00:17:13:22 – 00:17:15:07
JORGE CORREIA
Mas como é que isso faz?
00:17:15:09 – 00:17:18:07
RICARDO BAPTISTA LEITE
Por exemplo, nós, os países que.
00:17:18:09 – 00:17:32:18
JORGE CORREIA
Hoje fazemos rastreios, muito nessa lógica, muito ad hoc, ainda mama cólon. Mas é através de através de modelos de preditivos de que determinado conjunto de condições vão representar doenças.
00:17:32:18 – 00:18:01:05
RICARDO BAPTISTA LEITE
Se juntarmos o conjunto de dados que incluem os dados demográficos, os dados ambientais de onde a pessoa vive hoje, os próprios dados pessoais e clínicos da pessoa, permitindo a integração de toda essa informação. Podemos identificar quem é que irá beneficiar. Se nós tivermos que, por exemplo, priorizar quem vai ser vacinado primeiro por uma determinada vacina, imediatamente, estabelecer uma ordem, garantir que os tais assistentes virtuais imediatamente peçam à pessoa para vir automaticamente ter a marcação feita.
00:18:01:07 – 00:18:22:05
RICARDO BAPTISTA LEITE
Não há razão nenhuma. E tudo isto a um custo muito baixo daquilo, quer que seria necessário para montar isso tudo de forma, de forma manual. Mas mais. E é isto que é também muito importante na questão da integração do sistema de saúde Hoje, cerca de 30% dos portugueses não mais já nem vão ao SNS, não usam o sistema público.
00:18:22:07 – 00:18:35:16
RICARDO BAPTISTA LEITE
O que é que isto implica? Que as decisões de saúde pública feitas hoje em dia em Portugal são feitas não com base nos dados dos portugueses ou dos residentes em Portugal, mas com base nos dados de 70% dos residentes em Portugal.
00:18:35:17 – 00:18:38:17
JORGE CORREIA
Porque os outros dados estão noutro lado qualquer e os sistemas não falam.
00:18:38:21 – 00:19:04:12
RICARDO BAPTISTA LEITE
Não falam, não há qualquer integração e portanto, estamos a tomar decisões políticas com enorme impacto financeiro. O orçamento da saúde são milhares de milhões de euros com base numa visão parcelada da sociedade. Inevitavelmente vai cometer erros porque está a ter uma visão, uma visão tão enviesada daquilo que é a realidade e, portanto, é fundamental. Perguntava me para onde é que se começava.
00:19:04:14 – 00:19:14:09
RICARDO BAPTISTA LEITE
Eu acho que aquilo que seria mais fácil seria criar rapidamente uma agência digital, uma agência de dados em saúde que permitisse integrar esses dados todos a nível nacional. O que é que.
00:19:14:09 – 00:19:15:17
JORGE CORREIA
Faria essa agência?
00:19:15:19 – 00:19:28:14
RICARDO BAPTISTA LEITE
A agência primeiro garantiria que todos os dados a nível nacional estariam estruturados e organizados precisamente para podermos montar e aplicar estas ferramentas de inteligência artificial de modelos preditivos e criar os tais modelos de financiamento que hoje não existem.
00:19:28:14 – 00:19:46:22
JORGE CORREIA
E significa, por exemplo, que eu podia ir aqui ao Hospital de Santa Maria ou ao meu Hospital de Viana do Castelo, ou a um prestador privado que tudo, tudo aquilo que fosse coligido sobre mim, tudo aquilo que os médicos escrevessem sobre mim estaria disponível para eu poder usar noutro sítio qualquer.
00:19:46:24 – 00:20:01:11
RICARDO BAPTISTA LEITE
E mais e mais. Quer dizer, para além dos dados de saúde, quais são os dados que nós consideramos mais sensíveis? São os dados financeiros. E hoje em dia eu pego no meu cartão de crédito uma multibanco e vou à qual eu vou ao Rio de Janeiro. E reconhecem.
00:20:01:11 – 00:20:01:24
JORGE CORREIA
O cartão.
00:20:02:01 – 00:20:30:15
RICARDO BAPTISTA LEITE
Reconhece. Funciona. Pago. Não tem dinheiro, ninguém questiona. Nem sequer pensamos nisto. Reclamamos. Se não funcionar, eu estou num hospital, atravesse a rua, vou para uma clínica ou para outro hospital qualquer. Essa luz já não funciona. Mas isto resulta de que no mercado financeiro existem incentivos financeiros, porque é um negócio e no mercado da saúde, infelizmente, esse tipo de incentivos não funciona, a não ser que quem lidera e neste caso é quem gere o sistema, tem essa responsabilidade.
00:20:30:17 – 00:20:42:20
RICARDO BAPTISTA LEITE
Para além disso, e esta é a parte que eu acho mais fascinante é que se nós criássemos uma agência desta natureza, nós iríamos ter estes dados que tornariam Portugal pelo seu tamanho e por sermos um país europeu. Poderíamos ser um hub.
00:20:42:22 – 00:20:43:12
JORGE CORREIA
Um laboratório.
00:20:43:12 – 00:21:05:08
RICARDO BAPTISTA LEITE
Um laboratório para ensaios clínicos, para atrair as várias indústrias a usar em Portugal para ensaios clínicos, garantindo o acesso precoce a tecnologias de saúde sem baixo custo ou sem custos até para o país. E, potencialmente, isso poderia trazer uma enorme receita de milhões de euros para o país. Por que é que nós não fazemos isso? E os portugueses que estivessem dispostos a ceder os seus dados para contribuir para esta causa?
00:21:05:13 – 00:21:09:16
RICARDO BAPTISTA LEITE
Porque é que não recebem sob a forma de dividendos, um retorno financeiro como se.
00:21:09:16 – 00:21:14:11
JORGE CORREIA
Fossem investidores de uma determinada causa que era de agregação de dados que tenham um valor também económico?
00:21:14:12 – 00:21:39:08
RICARDO BAPTISTA LEITE
Tal e qual porque hoje em dia nós damos os dados gratuitamente às grandes empresas e ninguém reclama. Se nós pudéssemos coligir esses dados e organizá los para ter retorno financeiro e os portugueses poderem, por exemplo, em sede de RS, receber um retorno financeiro e bem, então aí passa a ser mais, mais transparente. Passam a beneficiar diretamente não apenas do ponto de vista financeiro, mas também estarão a contribuir para tornar a população mais saudável como um todo.
00:21:39:13 – 00:21:44:21
RICARDO BAPTISTA LEITE
E Portugal tem o tamanho ideal para poder ser verdadeiramente revolucionário no que diz respeito às tecnologias de informação.
00:21:44:21 – 00:22:23:20
JORGE CORREIA
Porque é que estamos a falar da questão bancária? Mas eu não deixo de me sentir menos confortável em poder partilhar o meu estado de saúde do que o número da minha conta bancária. Pode ser que eu sou pobre e, portanto o número de não tem nada de escandaloso. Mas a questão da informação e da segurança de informação de saúde, que é muito sensível num mundo em que nós cada vez mais ouvimos falar de hackers, de piratas, informáticos, é que e volta e meia ouvimos olha a tua password foi roubada e eu dava como certa e fidedigna que a minha password nunca ia ser roubada.
00:22:23:20 – 00:22:43:08
JORGE CORREIA
E foi. E é uma angústia que que eu tenho que a questão da segurança do cinto, dessa sensibilidade dos dados e dessa no fundo, colocar mecanismos de inteligência artificial que não só vão guardar a minha informação, mas vão pensar sobre ela.
00:22:43:10 – 00:22:58:01
RICARDO BAPTISTA LEITE
Se nós pensarmos, vamos olhar para as notícias dos últimos dez anos. O que é que ouvimos mais em Portugal? Violações de cibersegurança na área financeira ou na área do SNS? Garanto que foi mais nos hospitais do SNS.
00:22:58:04 – 00:23:00:22
JORGE CORREIA
Porque é um incentivo financeiro a proteger esses dados. No lado tudo.
00:23:00:24 – 00:23:03:22
RICARDO BAPTISTA LEITE
Base do negócio do sistema financeiro. Depende de.
00:23:03:23 – 00:23:04:10
JORGE CORREIA
Confiança.
00:23:04:10 – 00:23:26:09
RICARDO BAPTISTA LEITE
E confiança. Neste momento são dezenas de milhares de milhões de dólares que visa Mastercard, que estas empresas investem para estarem um passo à frente. Neste momento nós estamos a ver a ascensão da computação quântica, que tem o potencial de rapidamente poder furar os sistemas de segurança da maioria das instituições públicas europeu.
00:23:26:12 – 00:23:33:12
JORGE CORREIA
E se não for esta um futuro, uma tecnologia qualquer no futuro que pode se pode chegar e pode penetrar nessa e nessa formação.
00:23:33:14 – 00:24:09:03
RICARDO BAPTISTA LEITE
Nós estamos a falar de algo real e que vai nos afetar nos próximos cinco anos. Com acertamento foram preparados, Estamos para isso. Eu diria que há um investimento de cibersegurança, tem que ser claramente aumentado e tem que ser assumido como prioridade precisamente porque os dados são de tal forma sensíveis. Já hoje em dia nós ouvimos casos felizmente menos, mas eu enfim venho eu dar e deveria usar, por exemplo, como por vezes o acesso indevido a registos de pessoas pelas suas ser a positividade como via positivos afetava negativamente o acesso ao crédito habitação.
00:24:09:03 – 00:24:10:09
JORGE CORREIA
A questão dos seguros também, que era.
00:24:10:09 – 00:24:40:23
RICARDO BAPTISTA LEITE
Importante de acesso aos seguros, que não é aceitável, é uma violação de um direito humano. E, portanto, aqui eu acho que tem que haver da parte de quem tem estas responsabilidades. Tem que criar os mecanismos para garantir essa segurança. Ter uma agência com pessoas especializadas nesta matéria é fundamental, porque não tenhamos dúvidas que o digital vai afetar todos os setores, Mas na área da saúde tem um efeito particularmente positivo do ponto de vista de seu potencial de melhoria de saúde.
00:24:40:23 – 00:24:45:24
RICARDO BAPTISTA LEITE
Mas também tem enormes riscos, como aqueles que estamos aqui elencar na prática.
00:24:46:01 – 00:25:08:09
JORGE CORREIA
Se nós pudéssemos ter uma caixinha onde estivessem todos os nossos dados de saúde, claro que isso era bom para o diagnóstico futuro, para sermos melhor acompanhados. Coloca se, pois, a questão do algoritmo e eu não posso deixar de perguntar a um médico que é se você confiaria o seu diagnóstico exclusivamente à inteligência artificial e ao seu algoritmo sem intervenção humana.
00:25:08:11 – 00:25:08:24
RICARDO BAPTISTA LEITE
Neste momento.
00:25:08:24 – 00:25:10:02
JORGE CORREIA
Não.
00:25:10:04 – 00:25:48:02
RICARDO BAPTISTA LEITE
Aquilo que é que se preconiza até no nosso trabalho regulamentar e aquilo que é o que seja manter o ser humano no circuito e, portanto, o processo de decisão final é sempre do ser humano. A responsabilidade legal e deontológica é do ser humano. E nesse ponto que nós estamos agora, eu olhando para o futuro e olhando para as tendências da evolução da tecnologia, há partes do nosso trabalho que eu acho que estarei confortável em delegar as máquinas, a parte administrativa.
00:25:48:04 – 00:26:07:21
RICARDO BAPTISTA LEITE
Eu acho que nenhum de nós se importa de passar já e claramente vai ser a primeira área a evoluir. Depois haverá a parte de recolha de informação. Por exemplo, imaginemos que somos médico doente num consultório e 70% do tempo que o doente está no consultório médico está a olhar para trás de um ecrã de computador.
00:26:07:22 – 00:26:10:10
JORGE CORREIA
Sim, é uma desgraça. O médico está atrás, seus registos.
00:26:10:13 – 00:26:21:17
RICARDO BAPTISTA LEITE
E se nós, nós conseguíssemos eliminar o teclado, iluminar o ecrã e toda aquela informação ser recolhido via áudio e ser transformado nos registos? E o médico no final só tem que aprovar esse.
00:26:21:20 – 00:26:23:17
JORGE CORREIA
Poderíamos estar olhos nos olhos a conversar.
00:26:23:19 – 00:26:55:15
RICARDO BAPTISTA LEITE
Reforçar o lado humano, o lado da empatia que se perdeu objectivamente nos sistemas de saúde ocidentais. Portanto, eu creio que aí vai se evoluir. Há uma outra área que me parece que já estamos a ver os números que são verdadeiramente impactantes, que na área da radiologia a capacidade, a especificidade e sensibilidade de determinadas ferramentas por exemplo, o cancro da mama para olhar para imagens e para prever que uma determinada imagem de uma mama tem ali uma imagem susceptível de poder evoluir para cancro.
00:26:55:17 – 00:26:58:02
RICARDO BAPTISTA LEITE
As máquinas hoje são muito mais eficazes.
00:26:58:04 – 00:27:04:21
JORGE CORREIA
A ideia de encontrar micro padrões que são potencialmente que que os olhos humanos não não inventariam, não.
00:27:04:21 – 00:27:10:20
RICARDO BAPTISTA LEITE
Ouvem e que resultam das máquinas de facto serem treinadas com base em milhões e milhões e milhões de imagens.
00:27:10:20 – 00:27:13:06
JORGE CORREIA
Que têm uma base de dados aprendizagem que é importante.
00:27:13:08 – 00:27:38:17
RICARDO BAPTISTA LEITE
E, portanto, hoje em dia as. As máquinas nessa área, por exemplo, têm melhores resultados do que os seres humanos. Mas os estudos também mostram que uma simbiose máquina maior, o humano, é ainda mais eficaz do que os dois isolados. E, portanto, eu acho que estamos a evoluir para a era ciborgue, se quisermos, ou seja, em que somos simbioses entre humano e máquina.
00:27:38:19 – 00:27:48:14
RICARDO BAPTISTA LEITE
No futuro, haverá componentes em que as máquinas serão melhores. Aí, nós, como seres humanos, como espécie, temos que encontrar onde é que nós, seres humanos, podemos ser melhores do que as máquinas.
00:27:48:14 – 00:28:27:20
JORGE CORREIA
Então deixem perguntar uma coisa que é é e porque é que estamos a falar dos computadores quânticos muito avançados que é? E o dia é que se calhar não, não é muito longe do dia em que estamos a falar em que uma determinada máquina realiza um procedimento, uma cirurgia às cataratas, uma coisa qualquer que com o humano que está ao lado a validar os processos e consegue evoluir de tal maneira que é infinitamente melhor e mais preciso que o ser humano e até tem capacidade de auto aprendizagem e começa a desenvolver uma técnica melhor que o ser humano e portanto, não há nenhuma dúvida que aquela técnica que vai ser, mas que um dia comete
00:28:27:20 – 00:28:50:09
JORGE CORREIA
um erro que ninguém compreende por porque é que aconteceu? Porque a máquina e a sua caixa escura, a sua black box, aprendeu a fazer muito bem, mas no momento em que cometeu um erro, apesar da responsabilidade moral dos seres humanos, nós não compreendemos o que é que estava errado e, portanto, não conseguimos intervir para corrigir a máquina que é demasiado esperta.
00:28:50:11 – 00:29:18:06
RICARDO BAPTISTA LEITE
Aquilo que Whelan Musk se queixa. Mas é precisamente desse dilema. Mas é um dilema moral e resulta da nossa nossa condição humana. E eu, enquanto fundador de Tesla e, portanto, carros elétricos autónomos, ele diz que, proporcionalmente, face à dimensão populacional, há muito menos acidentes com carros autónomos do que com carros conduzidos por seres humanos. No entanto, há X número de acidentes com humanos que ninguém se queixa.
00:29:18:08 – 00:29:41:18
RICARDO BAPTISTA LEITE
Um acidente causado por um carro autónomo. Ai meu Deus, as máquinas vão nos matar a todos. Isso eu acho que é um processo evolutivo de adaptação da espécie a uma nova realidade e vamos ter esta fase em que teremos alguma dificuldade. Daí que o ser humano tem que se manter no circuito para nós nos sentirmos até mais tranquilos, apesar de estatisticamente sabermos que é mais seguro.
00:29:41:18 – 00:30:09:21
RICARDO BAPTISTA LEITE
Apesar de poder haver erros pontuais aqui e ali do que não ser a máquina a fazer. Ou seja, a ideia de que a máquina vai ser infalível e só quando ela for totalmente infalível é que substitui o ser humano é que me parece uma abordagem errada. O que nós temos é que ter um modelo de mitigação de risco em que a transição para a máquina deve ocorrer, quando claramente supera largamente, estatisticamente aquilo que é a capacidade humana e quando a sociedade estiver preparada para tal.
00:30:09:23 – 00:30:25:08
RICARDO BAPTISTA LEITE
E é nesse equilíbrio ético, moral, jurídico regulamentar que nós temos que nos encontrar. Dou o exemplo do elevador. O elevador é um excelente exemplo, porque quando enfim, as pessoas não queriam usar a elevadores no século XIX, tinham medo.
00:30:25:10 – 00:30:26:10
JORGE CORREIA
Bem, bem as compreender.
00:30:26:12 – 00:30:51:23
RICARDO BAPTISTA LEITE
Razão e, portanto, o engenheiro Otis, na Feira Mundial de Nova Iorque, em 1853, decidiu mostrar o seu elevador e montou um elevador enorme em Brin Park, em Nova Iorque, e subiu para o topo do elevador e depois pediu a frente de milhares de pessoas o seu assistente para cortar o cabo e quando cortou o cabo, o elevador começou a cair e travou porque o engenheiro tinha montado um sistema de segurança.
00:30:52:00 – 00:31:12:06
RICARDO BAPTISTA LEITE
Aplausos. A população adorou e começou se a construir uma relação de confiança com o elevador que levou a que Nova Iorque se tornasse um dos primeiros, uma das primeiras metrópoles do mundo a ter arranha céus. Mas durante quase 100 anos, o mesmo em Nova Iorque, foi necessário criar a profissão do ascensorista, ou seja, do operador de.
00:31:12:06 – 00:31:15:08
JORGE CORREIA
Elevador, que nos dá a confiança de que está tudo bem porque é.
00:31:15:08 – 00:31:36:03
RICARDO BAPTISTA LEITE
Um ser humano. Carrega no botão e é curioso. Sabe como é que acabou a profissão? Foi porque creio que na década de 60, 70 do século passado, os ascensoristas achavam que ganhavam pouco e decidiram entrar em greve. E quando entraram em greve, as pessoas perceberam que os elevadores funcionavam na mesma e, portanto, é preciso ter algum cuidado na luta pelos direitos laborais.
00:31:36:03 – 00:32:02:13
JORGE CORREIA
Portanto, não foi, não foi. Então, grande coisa. Olha, já força aqui a questão dos chatbots dos robôs com quem nós estamos a falar é que que às vezes até nos atendem o telefone até fazem chamadas. Eu tenho uma irritação profunda em relação ao chatbots, porque aquilo tem um algoritmo, segue um percurso. Fico sempre com a sensação de que aquilo me faz perder mais tempo e eu só digo o que é que desejo de quero falar com o humano, Quero falar com o humano, mas.
00:32:02:13 – 00:32:16:14
JORGE CORREIA
Mas ouvi te falar noutro dia de da comparação entre robôs e humanos que respondem a problemas de pessoas da saúde e depois faz uma avaliação de quem é que foi mais humano a responder O que é que aconteceu nesse jogo?
00:32:16:16 – 00:32:47:09
RICARDO BAPTISTA LEITE
Foi um estudo de abril de 2023 e portanto o ano passado, em que basicamente metade dos doentes usava um assistente virtual para esclarecer dúvidas, para tratar da sua doença. Metade das respostas foram dadas por médicos reais e outra metade por máquinas geradas por inteligência artificial. Em termos de ganhos em saúde, claramente as máquinas ganharam. Mas depois, quando fizeram um inquérito aos doentes sobre quem mostrou mais empatia, as máquinas ganharam também.
00:32:47:11 – 00:32:47:18
JORGE CORREIA
Disse.
00:32:47:18 – 00:33:01:18
RICARDO BAPTISTA LEITE
É preocupante ou reflete aquilo que é a natureza humana, aquilo que para nós, seres humanos, nós tiramos. Dormimos mal à noite, acordamos mal dispostos e vamos por vezes para o trabalho e refletimos isso no nosso dia a dia.
00:33:01:20 – 00:33:07:16
JORGE CORREIA
E quem está a ouvir está a dizer a esta pessoa É super aborrecida, sem saber que é saber o que é que acontece, saber o contexto.
00:33:07:20 – 00:33:26:14
RICARDO BAPTISTA LEITE
Exato ou se aproxima a hora de almoço ficamos com fome. Há um outro estudo que olha para os juízes nos Estados Unidos da América e percebeu que, quase consistentemente, por todos os Estados Unidos, as sentenças são mais duras na hora antes da hora de almoço.
00:33:26:16 – 00:33:31:05
JORGE CORREIA
E grande azar. Então quando é que me calha? A mim? É sempre importante quem for a tribunal.
00:33:31:07 – 00:33:33:05
RICARDO BAPTISTA LEITE
Seja depois da hora do vencedor ou.
00:33:33:06 – 00:33:35:19
JORGE CORREIA
Leva os homens levam a esposa.
00:33:35:21 – 00:33:57:24
RICARDO BAPTISTA LEITE
E, portanto, o que é que isto nos deve fazer refletir? Que, sobretudo na máquina da saúde, os profissionais estão cansados, têm pouco tempo para lidar com os doentes. Para além disso, por cima disto, têm que lidar com as tarefas administrativas, lidar com os computadores e os teclados e por aí fora. Nós temos que recentrar o humanismo e a humanidade.
00:33:58:03 – 00:33:59:01
JORGE CORREIA
Como é que se faz.
00:33:59:03 – 00:34:25:22
RICARDO BAPTISTA LEITE
Que o nosso funcionamento em sistema de saúde? Houve um dos autores publicar outro livro que era o Compaixão Nomex Quero olhar para a economia da compaixão aplicada à saúde e basicamente, o que fizeram foi encontrar um conjunto de métricas para medir empatia e compaixão e depois criaram um modelo de incentivos para os hospitais onde queriam aplicar essas métricas, premiando os gestores e os profissionais que cumprissem um conjunto de métricas.
00:34:25:24 – 00:34:29:02
RICARDO BAPTISTA LEITE
Não só melhoraram os inquéritos de satisfação dos utentes.
00:34:29:02 – 00:34:35:00
JORGE CORREIA
Sim, Até porque muitas reclamações têm a ver exatamente com essa dificuldade de comunicação e com a incompreensão.
00:34:35:02 – 00:34:49:17
RICARDO BAPTISTA LEITE
De empatia. Precisamente de incompreensão da parte profissional. Não só melhoraram significativamente a satisfação dos utentes, mas o mais curioso, para mim, é que conseguiram fazer isso, ao mesmo tempo que melhoraram significativamente os ganhos em saúde. E, portanto.
00:34:49:17 – 00:34:50:14
JORGE CORREIA
Como é que isso?
00:34:50:16 – 00:35:20:13
RICARDO BAPTISTA LEITE
Porque está mais do que demonstrado. E este livro corrobora aquilo que todos os outros estudos mostram empatia. E a compaixão é humanismo, são componentes fundamentais para as pessoas melhorarem a sua saúde. Não é por acaso que, por exemplo, quando se fala sobre os estudos da fé aplicadas à saúde, uma pessoa com fé, uma pessoa com positividade, a verdade é que consegue ter melhores resultados finais do ponto de vista de ganhos em saúde da sua problema de saúde do que as pessoas que não têm e, portanto, é preciso nós termos esta visão humanista.
00:35:20:13 – 00:35:45:11
RICARDO BAPTISTA LEITE
E eu acho que começando nas escolas de formação, até quem gere o sistema tem que se olhar para as tecnologias. E eu penso que inteligência artificial é uma oportunidade única para isto, para dizer ok, nós, este modelo de saúde centrada nos hospitais e por aí fora serviu, serviu durante décadas e serviu durante séculos. Mas vamos repensar se nós não tivéssemos este modelo como existe hoje, como é que fomos repensar o modelo do futuro.
00:35:45:11 – 00:35:48:23
JORGE CORREIA
E, portanto, esse click do digital podia ajudar nisso.
00:35:49:01 – 00:35:51:16
RICARDO BAPTISTA LEITE
Não tenho dúvidas que pode ser até o centro dessa reforma.
00:35:51:18 – 00:36:13:03
JORGE CORREIA
Podemos voltar à comparação anterior, que era quando eu estava a falar do cartão multibanco e é de facto a nossa vida de todos nós melhorou muito. Nós passamos a fazer coisas de uma forma mais, mais fácil, pois esse é que é o problema. Gastamos mais dinheiro e não é só isso que as taxas não baixaram. Está se os bancários subiram e eu agora fiquei sempre a pensar espera lá a minha vida até melhora na saúde e depois vou continuar a pagar a conta ainda.
00:36:13:04 – 00:36:42:03
JORGE CORREIA
Isto vai ser mais difícil para mim. O problema do controlo do cidadão sobre sobre as coisas é tudo, pois médico é. Tratamos muitas vezes dos cidadãos como de uma forma paternalista, na sua doença, na sua quase se tipo. Acho que o melhor exemplo que eu posso encontrar é veio às urgências. O senhor é uma falsa urgência. Eu ligo quando vocês precisam, faço urgência só até se chorar, não é que.
00:36:42:05 – 00:36:46:17
RICARDO BAPTISTA LEITE
Sim, eu também, Mas precisam que eu acho profundamente infeliz é que.
00:36:46:19 – 00:36:48:12
JORGE CORREIA
É que colocou o Fico na realidade.
00:36:48:14 – 00:37:08:09
RICARDO BAPTISTA LEITE
Ficou e aquilo que é conclusão é que a vasta maioria. Eu creio que essa é a diferença entre quem trabalha de facto de uma urgência e quem olha para isso de uma forma teórica. Quando se trabalha num serviço de urgência, é evidente que pode haver um ou outro caso que as pessoas vão à urgência semanalmente, quase como se fosse uma consulta periódica.
00:37:08:11 – 00:37:14:10
RICARDO BAPTISTA LEITE
Mas mesmo essas olharmos profundamente, muitas vezes um problema de saúde mental subjacente ou de solidão, que.
00:37:14:12 – 00:37:16:08
JORGE CORREIA
Precisam de ajuda de alguma maneira.
00:37:16:10 – 00:37:41:24
RICARDO BAPTISTA LEITE
É certo a religião, a religião, um problema que tem que ser abordado. Eu recordo me no hospital são Francisco Xavier, o Luís Campos fez um trabalho muito interessante de olhar para os chamados super utilizadores do sistema de saúde e criou uma equipa multidisciplinar, incluindo enfermeiros, social, assistentes sociais e por aí fora. E olharam para isso que eram 60 doentes que eram dos mais.
00:37:41:24 – 00:37:43:05
RICARDO BAPTISTA LEITE
Usavam o serviço de urgências para.
00:37:43:05 – 00:37:44:07
JORGE CORREIA
Compreender porque eles foram.
00:37:44:07 – 00:38:06:15
RICARDO BAPTISTA LEITE
Para casa das pessoas com entrevistas longas e perceberam um conjunto de problemas que estava ali subjacente. Resolveram nos e reduziram brutalmente as idas à urgência e melhoraram a saúde das pessoas. E, portanto, aí está mais um dos tais passos que se podem tomar. Já que é, vamos olhar para os 20% que utilizam mais o sistema de saúde e vamos criar equipas que olham para essas pessoas de forma.
00:38:06:17 – 00:38:18:09
RICARDO BAPTISTA LEITE
Aliás, são essas. Provavelmente estão a gastar o maior número de recursos do sistema de saúde. Isso não é bom para elas, não é bom para o sistema e, portanto, há que há oportunidades que nós podemos pegar para melhorar a saúde da população.
00:38:18:09 – 00:38:40:05
JORGE CORREIA
Porque há uma coisa que me fascina, que é podemos discutir as causas, mas que é uma espécie de atracção dos portugueses em relação às urgências. Lá está o hiper uso das doenças, mesmo em zonas onde a cobertura dos médicos de família. Tu tens alguma ideia de porque é que? Porque? Porque é que é tão sexy ir às urgências é a melhor palavra, mas.
00:38:40:07 – 00:38:54:02
RICARDO BAPTISTA LEITE
É tão apelativo. Eu diria que mesmo para quem tem acesso por vezes ao médico de família, primeiro que por vezes não é fácil marcar a consulta, segundo sentem que querem resolver o seu problema mais depressa possível.
00:38:54:03 – 00:38:55:13
JORGE CORREIA
Ali fazem umas análises, fazem uma.
00:38:55:13 – 00:39:33:08
RICARDO BAPTISTA LEITE
Radiografia, fazem tudo entre aspas e portanto, despacham uma lei. E eu creio que isto é uma falsa percepção de rapidez de resolução da sua situação, porque muitas vezes é um. Pense rápido sobre um problema que provavelmente precisaria de uma abordagem muito mais holística, muito mais aprofundada para resolver o seu problema de base. E por isso, se nós não mudarmos o modelo em que a pessoa se sinta verdadeiramente satisfeita ao ir ao seu médico, família ou eventualmente, até antes do médico de família com recurso à tecnologia, ter um conjunto de apoios que até evitem ter que sequer usar o modelo institucional.
00:39:33:10 – 00:39:43:23
JORGE CORREIA
E isso implica em que lá está, que haja, que haja um caminho que haja, que nós confiemos que entramos nesta porta do sistema e que depois, se for necessário, vamos ao sítio B, ao sítio C e que isto é fluído.
00:39:44:00 – 00:40:04:16
RICARDO BAPTISTA LEITE
Vamos imaginar um mundo em que eu sinto me doente e a primeira coisa que eu faço é pegue no telefone e ligue para o assistente, que é um assistente virtual, mas que me parece humano e que me consegue dar um conjunto de informações que avalie, que certa altura entende que deve ser visto por outro ser humano e, portanto, imediatamente coloca me no meu calendário a consulta no dia seguinte e eu vou lá.
00:40:04:16 – 00:40:29:03
RICARDO BAPTISTA LEITE
A consulta é feita sem computadores na sala. É tudo registado virtualmente com inteligência artificial. No final da consulta, imediatamente eu recebo um registo com resumo daquilo que foram as recomendações do profissional de saúde. A maioria dos doentes saem do consultório sem perceber as indicações que foram lhes dado e, portanto, uma compreensão com uma linguagem adaptada ao meu nível de escolaridade e que até pode ser lido se eu não souber ler.
00:40:29:05 – 00:40:38:06
RICARDO BAPTISTA LEITE
E com as receitas médicas e com os exames complementares marcados, é tudo feito de modo a otimizar o meu tempo e o meu percurso dentro da localidade onde eu vivo e.
00:40:38:06 – 00:40:39:24
JORGE CORREIA
A nossa vida melhorava muito.
00:40:40:01 – 00:40:58:06
RICARDO BAPTISTA LEITE
Eu creio que o potencial é brutal e se nós pensarmos que o tempo e o dinheiro que as pessoas gastam a saltar de um sítio para o outro, muitas vezes porque não há uma organização do sistema orientado desta forma, percebemos os enormes ganhos que isto representaria na vida das pessoas e também do ponto de vista da sua saúde.
00:40:58:09 – 00:41:09:21
JORGE CORREIA
Olha, tu tens experiência, obviamente de trabalho hospitalar, de trabalho clínico e decidiste, na altura da pandemia, ir e ir para ir para um banco de urgência. Como é que foi isto? Como é que foi essa experiência para ti?
00:41:09:23 – 00:41:34:21
RICARDO BAPTISTA LEITE
Bom, eu estava no Parlamento na altura e tendo tido a minha formação de base, toda a infectologia, perante uma pandemia por uma doença infecciosa, eu senti me na obrigação de servir naturalmente. Durante a semana estava no Parlamento e, portanto, ofereci me ali ao Hospital de Cascais como voluntário aos sábados e passei durante cerca de um ano a ir todos os sábados.
00:41:34:23 – 00:42:02:04
RICARDO BAPTISTA LEITE
E foi provavelmente das experiências mais importantes para mim nesse contexto. Pandemic Porque se durante a semana eu iria participar em reuniões sobre as famosas reuniões do Infarmed ou em reuniões mais particulares em que na altura eu fazia parte normalmente das delegações do PS junto do Governo para discutir as medidas que iam sendo tomadas nos momentos mais críticos, nos debates, nas comissões de saúde.
00:42:02:06 – 00:42:36:04
RICARDO BAPTISTA LEITE
Eu falaria, eu falava não com base numa visão distante da realidade, a partir dos telejornais, mas a partir da realidade daquilo que o que eu vivia e da realidade também que os meus colegas. Era muito comum colegas até de outros serviços, irem ter aquilo que nós chamamos o convidar. E o que era o espaço de Serviço de Urgência dedicada a convite a dar me nota de coisas que queriam que eu falasse e se queriam que eu destacasse numa próxima intervenção, porque os colegas sentiam que de alguma forma, podia ser a voz daquilo que eram as preocupações, Um momento muito difícil que o país estava a viver.
00:42:36:07 – 00:42:59:18
RICARDO BAPTISTA LEITE
Foi duro, foi muito duro. Começando pela minha família, que durante sete dias por semana, basicamente não me via. Não estava num período de Pandemic muito difícil, com crianças pequenas como qualquer família, enfim, que os teletrabalhadores e por aí fora. Muito, muito difícil. Com uma exposição mediática acima da comum, à qual a família estava habituada com o positivo e o negativo que daí advêm.
00:42:59:20 – 00:43:25:14
RICARDO BAPTISTA LEITE
E, portanto, naturalmente que houve momentos de alguma tensão, mas senti me profundamente privilegiado por poder servir. Como eu disse no início da nossa conversa poder servir a mesma coisa aconteceu passado um ano ou dois, quando rebentou a guerra na Ucrânia com a invasão russa e me pude oferecer para ser voluntária nas férias parlamentares. E tive no verão de 2022.
00:43:25:16 – 00:43:26:18
JORGE CORREIA
Como é que foi essa experiência.
00:43:26:18 – 00:43:46:24
RICARDO BAPTISTA LEITE
No Hospital Regional de Lviv? Foi. Também. Eu nunca tinha trabalhado em contexto de um país de conflito em conflito. Eu estava na cidade do Vivo, portanto distante da linha da frente, Mas por causa disso, era das cidades que recebia mais pessoas a fugirem dessa linha da frente e, portanto, a população habitual dele vivo era de cerca de 1 milhão de pessoas.
00:43:46:24 – 00:44:02:08
RICARDO BAPTISTA LEITE
Naquela altura de mais de 2 milhões de pessoas, o hospital estava sobrevoado e um dos primeiros sítios onde me pediram para ajudar foi no serviço de cuidados Intensivos neonatais. O número de bebés prematuros tinha disparado uma forma louca, porque.
00:44:02:09 – 00:44:03:07
JORGE CORREIA
Causa do stress da guerra.
00:44:03:09 – 00:44:33:05
RICARDO BAPTISTA LEITE
Stresse de guerra, falta de acompanhamento de cuidados parentais e, portanto, acompanhar todo aquele processo. O drama dos profissionais, a forma como os profissionais encaravam aquilo, como fazendo o seu parte no esforço de guerra. Muitos deles podiam ter saído do país, decidiram ficar ali a trabalhar. Esta unidade de cuidados intensivos foi construída, foi real, foi deslocada para um bunker debaixo de terra e 01h00 depois de estar a trabalhar lá, a minha ficha estava colado ao corpo com calor.
00:44:33:07 – 00:45:09:09
RICARDO BAPTISTA LEITE
Estas eram maioria mulheres, profissionais de saúde, enfermeiras e médicas a trabalharem naquele contexto há meses. Agora anos sem luz solar, a tratarem daqueles bebés, foi de facto uma experiência brutal. Depois ainda tive oportunidade, por via da guerra de parlamentares, que aquilo que eu fundei tive uma reunião no âmbito da diplomacia parlamentar com o ministro da Saúde, Viktor Fiasco, e que me impressionou brutalmente, porque nós pensamos sempre na guerra e no ajuda humanitária no contexto de guerra, ou seja, na linha da frente.
00:45:09:11 – 00:45:36:17
RICARDO BAPTISTA LEITE
E era o que ele me dizia a ajuda humanitária está toda na linha da frente. É onde nós temos mais dificuldades, é no resto do país. Neste momento eu tenho que manter, ele dizia. Eu tenho que manter o sistema de saúde a funcionar. As pessoas continuam a ter enfartes, as pessoas continuam a ter diabetes, as pessoas continuam a ter hipertensão arterial, continuam a ter bebés e, portanto, o sistema tem que continuar a fazer um ministro da Saúde a ter que lidar com os problemas de saúde no contexto de guerra, mas ao mesmo tempo ter que manter um sistema de saúde a funcionar é brutal.
00:45:36:17 – 00:45:55:03
RICARDO BAPTISTA LEITE
E quando lhe perguntei como é que nós podemos ajudar mais e fico feliz de ver Portugal está a dar algum apoio nesta área. Eu disse na área de medicina física e reabilitação nós não conseguimos manter o ritmo de produção de próteses para a quantidade de pessoas que estão a pedir perder os membros no contexto de guerra por causa das explosões e dos bombardeamentos.
00:45:55:05 – 00:46:18:05
RICARDO BAPTISTA LEITE
E depois, para além dos próteses, ter todo aquele processo de apoio de medicina física, de reabilitação propriamente dita e, portanto, de uma perspetiva completamente diferente, é um dos momentos mais emocionantes da minha vida. Foi quando terminei e deram me boleia para lá na altura. Ainda hoje não se pode viajar de avião e portanto eu tinha entrado de comboio, mas para sair saí de carro.
00:46:18:05 – 00:46:47:04
RICARDO BAPTISTA LEITE
Tive boleia de um padre do Vivo que me levou para Cracóvia e aquele momento em que o passaporte europeu português me permitiu passar a fronteira e sair de um país de guerra imediatamente, entrar numa autoestrada com aquelas planícies verdes habituais de centro da Europa, com a bandeira europeia ali no meio e perceber que a liberdade está uma fronteira de distância.
00:46:47:06 – 00:47:00:05
RICARDO BAPTISTA LEITE
De facto, percebemos que são nossos vizinhos, são nossos irmãos que estão ali em guerra, que estão a fazer um esforço brutal e que nós temos muita sorte de estar deste lado da fronteira. E isso foi algo que me marcou profundamente.
00:47:00:05 – 00:47:09:18
JORGE CORREIA
Eu já senti saudade como imigrante, nem sequer te sentes como como imigrante a trabalhar agora na Suíça.
00:47:09:20 – 00:47:10:16
RICARDO BAPTISTA LEITE
Suíça, Genebra.
00:47:10:22 – 00:47:14:24
JORGE CORREIA
Mas. Mas como o tratam na realidade? Tu passas dar voltas pelo mundo?
00:47:15:03 – 00:47:42:14
RICARDO BAPTISTA LEITE
Sim, por força das minhas funções, acabo por fazer muitas relações com os governos e com os parceiros chave e, portanto, acabo por viajar, muito embora a base seja seja. Genebra é a minha família fica em Portugal e portanto faço esta estas viagens para trás e para a frente e portanto continuo a ter o pé cá, digamos assim, por via familiar, mas algum distanciamento que leva a alguma saudade.
00:47:42:14 – 00:48:12:16
RICARDO BAPTISTA LEITE
Sim, é inevitável, mas a minha situação é muito privilegiada face a muitos portugueses. A Genebra é uma cidade onde eu não sinto falta do pastel de nata e da marca Portugal, mas eu vejo e eu cresci no Canadá e portanto, eu compreendo muito bem este sentimento que eu vejo na população portuguesa, na Suíça, que é a ideia do Natal e do Agosto, estarmos perto e estarmos longe e trabalhar um ano inteiro para poder regressar ao país.
00:48:12:18 – 00:48:26:07
RICARDO BAPTISTA LEITE
Felizmente não sinto tanto isso porque consigo vir todas as semanas, mas é incrível ver como estes portugueses, muitas vezes os que nasceram fora daqui sentem muito mais a portugalidade estando fora do que muitas vezes por cá.
00:48:26:09 – 00:48:31:11
JORGE CORREIA
Ricardo Teixeira Leite, muito obrigado. Manda um abraço, Ana.
00:48:31:13 – 00:48:32:16
JORGE CORREIA
E parabéns pela menina.
00:48:32:18 – 00:48:34:18
RICARDO BAPTISTA LEITE
Muito obrigado.
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